A convite do Festival de Cinema Italiano no Brasil conferimos cinco filmes inéditos que estarão na 18ª edição do evento que começa no dia 8 de novembro e se estende até 9 de dezembro, em 91 salas espalhadas por mais de 60 cidades em todas as regiões do país e também no streaming disponível no site. Vem conferir o que achamos dos filmes!
A Sombra de Caravaggio (L'Ombra di Caravaggio)
O filme retrata a vida do renomado pintor italiano Michelangelo Merisi, que ficou conhecido como Caravaggio e foi de grande importância para o estilo barroco. O filme se passa em 1609 e explora a vida do artista à fundo, mostrando como sua genialidade artística revolucionou a pintura e também a igreja, um dos seus principais clientes.
Se você ama arte com certeza vai adorar assistir este filme que mostra todo o processo criativo de Caravaggio, que revolucionou a pintura retratando acontecimentos bíblicos utilizando pessoas muitas vezes descartadas pela sociedade, como prostitutas, por exemplo.
O filme retrata todo o sofrimento que Caravaggio enfrentou enquanto aguardava o perdão papal para escapar de uma sentença de morte, por ser um artista à frente do seu tempo nunca foi visto como deveria. A produção é incrível, com uma direção de arte e fotografia impecáveis que te transportam até 1609, tive a impressão que a paleta de cores do filme também seguia o estilo barroco em homenagem ao pintor. Preciso ressaltar o talento de Riccardo Scamarcio, que na pele de Caravaggio conseguiu demonstrar como aquele homem se sentia sendo desvalorizado por quase todos à sua volta e infelizmente foi mais um grande artista que morreu antes de receber o devido reconhecimento.
Obrigado, Rapazes (Grazie Ragazzi)
O filme conta a história de Antônio, um ator que trabalha como dublador de filme pornô e não é um trabalho que ele se orgulhe ou goste. Então, um amigo dá a oportunidade dele ser diretor num curso da prisão, e como isso poderia começar a abrir portas para algum outro trabalho, ele acaba por aceitar esse desafio.
E assim começa a jornada de Antônio, ensaiar cinco prisioneiros para a peça “Tartaruga e Lebre” para que eles possam se apresentar na cadeia, mas ele acaba por ver muito potencial neles e os incentiva a ensaiar para a peça “esperando Godot”, de Samuel Beckett. Com isso, eles começam a estudar mais e mais e vão se apresentar num teatro de verdade, o público impressionado com a atuação deles acaba por ganhar fama e se apresentam em todos os teatro da Itália fazendo a mesma peça.
Esse filme mostra como as pessoas podem mudar se derem uma chance, no último discurso de Antônio é possível ver a visão dele em relação aos rapazes. Não é uma visão como detentos, mas sim pessoas que têm família e objetivos. Além disso, mostra o poder que o teatro teve na vida daquelas cinco pessoas, onde era um refúgio para eles, tanto que em vários momentos mostra a dedicação deles para aprenderem suas falas. “Obrigado, Rapazes”, é uma comédia inspiradora que vale a pena ver!
A Última Vez Que Fomos Crianças (L'ultima Volta Che Siamo Stati Bambini)
Claudio Bisio dirige “L’ultima volta che siamo stati bambini”, filme baseado no livro de mesmo nome do escritor Fabio Bartolomei. O longa retrata a inocente infância de quatro crianças durante a Segunda Guerra Mundial.
"A Última Vez Que Fomos Crianças" é um daqueles filmes que ficam na nossa memória pela impactante e dramática história. Usualmente os longas sobre a 2ª Guerra Mundial trazem forte elemento de drama e tristeza vivido pelos combatentes, alguns filmes, entretanto, optam por abordar os horrores da guerra de forma diferente, trazendo os acontecimentos sob uma ótica não usual do combate, mas sim de pessoas comuns. "A Última Vez Que Fomos Crianças" está nessa lista de filmes que tem o contexto da guerra, mas que o combate em si parece estar em segundo plano na narrativa.
O longa acompanha a amizade de quatro crianças italianas em uma Roma fascista. Italo, Vanda, Cosimo e Riccardo vivem a brincar e conjecturam sobre como os quatro formam um pelotão fascista pronto para batalhar. Há, porém, um elemento crucial nessa amizade: Riccardo vem de uma família judia e, vivendo sob o estado fascista, logo será separado de seus amigos por motivos que as crianças não conseguem entender. Decididos a resolver esse mal entendido, Italo, Cosimo e Vanda partem rumo à Alemanha com a missão de resgatar o amigo.
Um ponto muito importante para o filme é o contraste entre a inocência dos pequenos e os horrores cometidos pelos fascistas. Além disso, explora-se muito bem a visão das pessoas comuns sobre a guerra e também o fato de uma grande parte da população não entender o porquê a Itália está batalhando ao lado da Alemanha. "A Última Vez Que Fomos Crianças" tem um título perfeito para a mensagem que o filme passa e o final é extremamente difícil de digerir. Um filme para impactar e jamais ser esquecido.
Ainda Temos o Amanhã (C’è Ancora Domani)
Ambientado nos anos finais da década de 40, durante a redemocratização italiana do pós-Segunda Guerra, que culminou na queda do regime fascista de Mussolini e na constituição da república italiana, C’è Ancora Domani (Ainda Temos o Amanhã em português) conta a história de uma família pobre de Roma sob a perspectiva de Delia (Paola Cortellesi), a matriarca da família.
Logo no começo conhecemos a rotina de Delia, que realiza diversos trabalhos para sustentar a casa, além do próprio trabalho domiciliar, enquanto seu marido, Ivano (Valerio Mastandera) passa o dia inteiro fora a trabalho. Aqui já há um ponto interessante que o filme mostra, já que diferentemente da realidade americana desse período, no qual houve o surgimento do “American Way of Life” e em que as mulheres passaram a ser objetos de decoração domiciliar; na Europa, elas mantiveram o papel no sistema produtivo do período da guerra, trabalhando em diversos serviços, enquanto os homens se reinseriam nele.
O filme é muito feliz ao retratar como as mulheres são marginalizadas no mercado de trabalho, através do pagamento menor de salário para a mesma função de Dalia; das discussões políticas e até mesmo das decisões da própria vida, sendo esse, principalmente, o arco de Marcella (Romana Maggiora Vergano), a filha de Delia. Ela é obrigada a abandonar os estudos e se casar cedo com alguém de família abastada mediante aprovação da família, para elevar o status social de toda ela.
Porém, o grande foco do filme recai sobre a violência doméstica sofrida pela protagonista, normalizada pelos homens da casa e julgado sem interferência por amigos, além do seu ciclo vicioso na sociedade. Instigada por Marcella, Delia percebe que aquela não era a vida que ela merecia e assim resolve mudar, e vê num convite para fugir para o Norte com uma antiga paixão sua e a grande possibilidade de quebrar esse ciclo vicioso, além de agir para que sua filha não seja vítima dele.
Essa dramédia marca a estreia de Paola Cortellesi na direção, e ela aposta no preto e branco e em maneirismo de atuação para trazer fielmente a aura dos anos 40, inclusive aquela vista nos filmes da época. Há certos floreios na direção que por vezes não eram necessários, e algumas escolhas não surtem o efeito desejado, sobretudo na primeira grande cena em que Delia é agredida, na qual a diretora opta por uma dança com o intuito de suavizar a cena, mas que acaba tirando o impacto que ela deveria passar. Dentre as atuações, fica o destaque para a jovem Maggiora Vergano, que consegue passar a dramaticidade justa quando confronta sua mãe sobre a violência sistêmica que sofre nas mãos do seu pai, ao mesmo tempo que entrega um drama caricato de um coração jovem partido.
A Última Noite de Amore (L'Ultima Notte di Amore)
Policial. Servidor do Estado há 35 anos. Homem honesto. Nunca atirou em ninguém. Era assim que as pessoas descreviam Franco Amore, até a sua última noite antes da aposentadoria. Quando seu amigo, e companheiro de trabalho, é assassinado durante um trabalho secreto em que eles desempenhavam, Franco entrará em uma espiral de tensão, desconfiança e luta contra o tempo para evitar que mais pessoas saiam feridas.
Desde o início, o filme dá indícios de que a sua trama não será tranquila. Com incríveis planos feitos de cima sob a cidade de Milão, somos introduzidos a uma trilha sonora tensa com suspiros que nos intrigam. Semelhante ao que acontece em livros de suspense, o longa se inicia com a situação que origina o problema do enredo e volta ao passado para reconstruir os fatos até aquele momento. Essa construção irá te prender e fará você analisar todos os detalhes em busca de pistas!
O mistério é de fato bem intrigante e o roteiro te fará desconfiar de tudo e de todos. Um ponto falho é que, ainda que o suspense seja interessante, a falta de desenvolvimento dos personagens atrapalha a conexão do espectador. Uma vez que o filme se constrói em um intervalo curto de tempo (pouco mais de uma semana), não há uma construção suficiente das figuras que identifique a motivação por trás de certas atitudes. O final é realmente surpreendente e fará você entender porque será a última noite de Amor(e)!
Se você gostou de algum dos filmes citados, basta acessar o site do festival, clicar no filme escolhido e aproveitar totalmente grátis!
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