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  • Foto do escritorEquipe Pippoca

Coração de Neon: filme curitibano aposta em cultura regional


A equipe do Pippoca participou do evento de lançamento do filme Coração de Neon que aconteceu dia 05 de março, em Curitiba, no Teatro Positivo, e pôde assistir ao filme antes do lançamento oficial que será no dia 09 de março nos cinemas. Confira nossa crítica sobre a produção.


O filme acompanha um jovem que, junto com seu pai, trabalha em um serviço de carro de mensagem chamado Coração de Neon, o automóvel é bem característico com várias luzes de led e mensagens de amor. Eles vivem uma vida simples e dedicada a empresa que realiza serenatas com mensagens ao vivo, mas, numa determinada apresentação, uma tragédia acontece e Fernando se vê sem chão.



Desde o início o filme chama a atenção pela qualidade da fotografia e pela edição, que estão incríveis, ainda mais quando levamos em conta que o filme foi produzido sem qualquer patrocínio público, sendo um autêntico cinema de guerrilha, a produção fica ainda melhor. Sua trama se passa no bairro Boqueirão, e para quem não é de Curitiba vamos explicar melhor todos os elementos da cidade presentes no filme.

O Boqueirão é uma das regiões mais populosas de Curitiba, com cerca de 70 mil habitantes, e se encontra na região sul da cidade, já na periferia da capital paranaense. Também é um bairro conhecido por ter um grande índice de violência, sendo o segundo com mais furtos em 2022 na cidade. O roteiro se sustenta nesse fato e na humildade dos moradores para contar a história trágica que envolve assassinato e desejo de vingança.


Além do bairro, outro elemento bem curitibano do filme é o curioso personagem do homem fantasiado de capivara que vende algodão doce pelo Boqueirão. Quem mora em Curitiba sabe que as capivaras viraram símbolo da cidade, pois estão presentes em um dos principais parques e vivem em harmonia com as pessoas. Outro item bem conhecido pelos curitibanos e que tiveram cenas rodadas dentro deles, são os biarticulados, um ônibus com duas articulações usado por todos para se locomover entre diferentes pontos da cidade por faixas exclusivas, chamadas de canaletas.

Um dos pontos interessantes do filme também é a presença da comunidade preta de Curitiba, já que ela é a capital sulista com maior população autodeclarada negra, mas que, como a geógrafa Glaucia Pereira mostra em sua tese de mestrado, o processo de ocupação curitibano marginalizou essa população, apagando-a até mesmo de sua história. Ela recebe destaque no filme, sobretudo com a excelente atuação de Wawa Black, que vive Dinho, amigo de Fernando.


Indo além do contexto curitibano, outro personagem conhecido pelos brasileiros é o chamado “guardinha de rua”, aquele guarda particular que tem a função de monitorar a rua durante a noite e tem um som característico, e que acaba sendo uma personagem chave para a trama.


O filme é um drama cheio de emoções, que flutua por cenas de comédia e ação, com ótimas atuações, mas que peca em alguns detalhes técnicos, como por exemplo o roteiro acelerado, que acaba quebrando o desenvolvimento da relação entre os personagens; a montagem, que fazem poucas cenas ficarem confusas; algumas escolhas de posicionamento de câmera, sobretudo nas cenas do vilão do filme; e o excessivo “curitibanês”, forçando gírias da cidade em diálogos comuns. Apesar desses detalhes, o diretor/roteirista/ator Lucas Estevam Soares entrega um filme incrível.

A produção é o primeiro filme brasileiro em Dolby Atmos, uma tecnologia que permite que os sons sejam interpretados como objetos tridimensionais. O filme contou com intensa divulgação nas cidades, principalmente em Curitiba, envolvendo desde outdoor até ativação em eventos.


Além disso, é preciso destacar o trabalho de Lucas, que passou 4 anos produzindo o filme. Seu trabalho foi tão a fundo, que até mesmo desenvolveram exclusivamente a trilha sonora para Coração de Neon, reunindo artistas curitibanos e tendo o próprio Lucas como cantor em algumas das faixas. A trilha sonora é um ponto de destaque no longa, a música encaixa muito bem nos momentos em que foi colocada.


O diretor curitibano reforça: “quero eternizar nessa intensa obra de arte a minha cidade, meu bairro, meus amigos e meu começo”.


Coração de Neon é digno de ganhar diversos prêmios, será que já podemos sonhar com a volta do Brasil ao Oscar? A gente não perderia as esperanças, já que a produção já foi selecionada em mais de cinco festivais internacionais, sendo vencedor do Remi Special Juri Award (Prêmio Especial do Júri) do 55º WorldFest Houston e exibido no Festival de Cannes, na França.


Espero que vocês tenham ficado com vontade de conferir Coração de Neon. Vamos celebrar o cinema brasileiro!


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