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O Esquema Fenício: Wes Anderson capricha na estética em fábula de fé, paternidade e… granadas

  • Foto do escritor: Marcos Silva
    Marcos Silva
  • há 23 horas
  • 3 min de leitura

Dizem que o melhor filme de Wes Anderson é sempre o próximo. Com O Esquema Fenício, essa máxima será posta à prova. A convite da Universal Pictures, assistimos com exclusividade ao novo longa que estreia nos cinemas no dia 29 de maio. A seguir, conto como foi essa experiência.

O Esquema Fenício: o melhor filme de Wes Anderson é sempre o próximo

Enredo

Um pouso forçado de emergência! Este é o sexto acidente de avião que o excêntrico magnata Zsa-zsa Korda já sobreviveu. Pai de nove filhos homens, ele determina que a sua única filha mulher, a freira Liesl, seja a herdeira de todo seu patrimônio. Antes de tudo, ele pede ajuda à filha para colocar de pé o último projeto da sua vida, chamado “Korda Land and Sea Phoenician Infrastructure Scheme”. 

Essa é a premissa perfeita para uma road trip de pai e filha, Zsa-zsa e Liesl precisarão viajar o mundo, junto de Bjorn, um tutor que chega ali de surpresa, para negociar com os empresários, empreiteiros e criminosos mais ardilosos do mundo. Tudo isso com a ajuda de um esquema cuidadosamente armazenado em pequenas caixas de sapatos, projetado para confundir e afastar os adversos ao plano maior do milionário canastrão.

O Esquema Fenício: o melhor filme de Wes Anderson é sempre o próximo

É um filme que conta muito com o esquema visual já conhecido do diretor para funcionar e dar certo. Os planos de câmera cirurgicamente alinhados que ganham uma movimentação brusca, assim como a movimentação mecânica dos personagens e os efeitos quase práticos. É uma peça de teatro, ou jogo de marionetes em tela.


Um esquema que junta todas as tribos

Para essa nova fábula, Wes precisava de um time disposto a entrar em sua fantasia. O diretor conta com velhos amigos já conhecidos, como Willem Dafoe, Benedict Cumberbatch e Scarlett Johansson. Porém, apesar de seus papeis parecerem inéditos, eles carregam ecos de personagens que já vimos em outras obras do cineasta.

Benicio Del Toro, que já tinha atuado antes com o diretor, tem momentos à vontade como o impiedoso magnata Zsa-zsa Korda. Outro que está se divertindo à beça é o Michael Cera, interpretando o Bjorn, uma espécie de agente duplo disfarçado que no fundo corta só para um lado. A surpresa aqui fica por conta do desempenho de Mia Threapleton como a filha do empresário. Ela se torna o coração do filme mesclando o humor abrupto de Wes com um carisma sentimental muito bem colocado. Além de tudo isso, tem uma partida de basquete com os personagens de Tom Hanks e Bryan Cranston que é impagável de boa!

O Esquema Fenício: o melhor filme de Wes Anderson é sempre o próximo

Será que sou burro?

Em determinado momento, a quantidade de informações apresentadas pode ser desproporcional à capacidade do nosso cérebro de absorvê-las. Quero pedir ao espectador iniciante no universo de Wes Anderson que respire fundo: está tudo bem, você não perdeu nada! Até a mente mais atenta vai talvez precisar de uma segunda assistida para se acostumar com o texto proposto aqui. 


Em alguns momentos, Wes cria uma reimaginação do Céu. Com um personagem principal que já quase morreu mais do que já viveu, vez ou outra ele aparece em uma espécie de plano astral para refletir sobre seu último capítulo de vida - e se preparar para o próximo. É uma forma poética que o diretor encontrou de aproximar mais o pólo espiritual do personagem de Benicio del Toro ao passo em que ele passa mais tempo com sua filha, uma freira católica devota.

O Esquema Fenício: o melhor filme de Wes Anderson é sempre o próximo

Uma das peculiaridades mais conhecidas do diretor é a sua capacidade estética e de criação de universo. Ele a compõe com diversas referências, mas que, ao delimitar esse universo em uma tela, consegue com maestria conduzir quem está investindo tempo assistindo a ela. Aqui é o mesmo esquema: tem uma mistura cultural católica, com figuras e figurinos egípcios, ambientes navais, edifícios no estilo barroco, florestas tropicais, ternos e gravatas. Em momentos, tudo isso está junto em cena, mas mesmo assim a estética continua impecável.


Você aceita uma granada?

O Esquema Fenício: o melhor filme de Wes Anderson é sempre o próximo

O Esquema Fenicio não é uma novidade no catálogo do diretor Wes Anderson. Ouso dizer que em alguns momentos é uma interpretação de si mesmo. Há tantos recursos sendo colocados em tela que acabam alongando o filme de uma maneira que não o deixa ser tão fluido como suas obras anteriores. Ainda assim, ele mantém o charme característico com um timing cômico cínico e os enquadramentos simétricos impecáveis. É um filme menos comercial e mais interessado em termos visuais e personagens metódicos. Wes continua comprometido com sua arte e com contar uma história cheia de espinhos. Quem gosta do estilo do diretor vai curtir sem enjoar. 


©2019 por pippoca.

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