Pegamos a onda em primeira mão e assistimos Moana 2, que chega aos cinemas em 28 de novembro. E eis aqui as nossas considerações.
A história
Três anos se passaram desde que Moana se descobriu navegadora e salvou sua ilha natal. Agora, como uma líder exploradora de seu povo, ela recebe um chamado de seus ancestrais para encontrar uma ilha perdida que conectava todos os povos do oceano no passado.
Com a ajuda de uma tripulação improvável de nativos, muita cantoria e a companhia do semideus Maui, ela enfrenta novamente as águas do oceano e os perigos que surgem por lá. A missão é encontrar o deus das tempestades Nalo, quebrar a terrível maldição e unir os povos do oceano mais uma vez.
Bom, com o plot principal colocado em jogo, já vamos começar com os pontos positivos de Moana 2.
O que brilha nesta sequência
O visual da animação é lindíssimo. Desde os primeiros minutos, quando tudo ainda está calmo, dá pra notar o cuidado nos detalhes: cabelos ao vento, as texturas, a musculatura dos personagens, pedra, penas, grama… tudo foi trabalhado com carinho. É um salto visível em relação ao primeiro filme. Não temos momentos tão deslumbrantes ou criativos, mas é impossível negar: tá bonito!
Outra novidade que funciona é a dinâmica entre Moana e sua nova tripulação. Juntar o pessoal da ilha trouxe uma energia diferente, e ver eles se entrosando no caminho resulta em cenas fofas e divertidas. Destaque para Kele, o senhorzinho ranzinza que odeia musicais, mesmo estando preso em um!
Na dublagem, o filme aposta em uma abordagem mais moderna, deixando Moana ainda mais Gen Z que nunca. O trabalho de voz se mantém excelente, mas o texto agora vem carregado de termos da moda: é um “arrasta para cima” aqui, é um “poderia ter mandado um e-mail” ali. Funciona? Às vezes arranca risadas, outras vezes soa meio cringe. Mas no fim, é uma tentativa válida de disputar a atenção do público com a ascensão do TikTok, Instagram e YouTube. Quem sabe não descola um viral!
Além disso, o filme pega emprestado algumas piadas do anterior para criar uma conexão, como a forma meio tubarão do Maui e a cena de comer carne de porco com o porquinho Pua olhando encabulado. Engraçadinho lembrar o passado, mas vamos focar no que tá rolando agora?
Um mar nem profundo demais
Nesta segunda aventura, sinto falta do senso de urgência que foi criado na primeira. O plot não fica muito claro, e é fácil se perder nas regras dessa nova aventura e no motivo de ela estar acontecendo. O que move Moana é a decisão de resgatar a ilha que, no passado, uniu todas as tribos. Será mesmo que após três anos como navegante, ela nunca mais cruzou os limites do recife e se encontrou com outros povos? É um argumento muito fraco para juntar essa galera toda de novo.
Outro ponto é que as músicas são esquecíveis. Faz só algumas horas que assisti ao filme, e, se puxar bem na memória, consigo destacar o número da Moana com Matagani, da galera no barco tentando achar o ritmo e um momento coach do Maui (só não me pergunte as letras destas músicas!) O mais preocupante, no entanto, é sair da sessão sem nem o nome da música principal grudado na cabeça, considerando como “How Far I’ll Go”, o hino do primeiro filme, fica com você muito tempo depois de subirem os créditos.
E o vilão: quem é? Matagani, a menina morcega que prende o Maui? Mas ela não acabou de cantar com a Moana, dizendo que só queria se libertar do deus Nalo? E cadê ela no final? Ah, só no pós créditos… Mas porque raios (literalmente raios!) ela ainda está presa com o vilão se a Moana já liberou a ilha? E, aliás, por que a ameaça final é um raio azul surgindo do céu? A gente já não superou esse plot preguiçoso em 2016? Sério, por que o vilão é uma repetição do primeiro filme e só aparece no pós créditos em seu trono aguardando a revanche no próximo (se tiver)? O roteiro só pode ter ido parar no fundo do mar!
E o quão longe poderia ir, hein?
Moana 2 é um filme que recicla toda a estrutura do primeiro com pouquíssimas mudanças. O problema é que o que funcionou lá, porque tudo era novidade, aqui se torna cansativo e previsível. Já sabemos quem é Moana, sua jornada, sua força. Repetir o mesmo esquema tira o impacto e a emoção.
Os clichês não colam mais. Utilizarem o recurso do sacrifício do heroi para um bem maior é preguiçoso e, na minha opinião, deveria ser BANIDO de qualquer sala de roteiristas. Vamos combinar: o nome da protagonista é o título do filme. Como é que alguém vai acreditar que ela realmente corre perigo de vida, ainda mais num filme da Disney, cheio de crianças no cinema?
Olha, não me venha falar que sequências são geralmente piores. Se tratando de animações temos Toy Story, Kung Fu Panda, Shrek, Aranhaverso e Gato de Botas. Todos souberam subir o nível do jogo em suas sequências. Expandir o universo criado para Moana não é difícil: estamos falando de um oceano vasto com potencial para criar infinitas histórias, uma mitologia que mistura a ancestralidade com o misticismo de criaturas mágicas. Basta um pouco de criatividade e tempo para criar um roteiro que pega o que deu certo no primeiro e eleva mais o patamar da história.
Dito isso, não considero Moana 2 um filme imperdível para assistir no cinema. Ele traz elementos que vão divertir as crianças (a irmã dela é uma fofa), mas talvez deixem os adultos sem paciência nenhuma para explicar os detalhes além para os pequenos. Ele deixa um gancho para uma continuação, e eu espero que tenha mesmo, afinal desperdiçaram com gosto personagens em potencial, como a Matagani, por exemplo. Digo de antemão que dá pra esperar surgir no Disney Plus daqui uns meses. Não tem pressa não!
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