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Assalto à Brasileira é uma deliciosa comédia de absurdos

  • Foto do escritor: Marcos Silva
    Marcos Silva
  • 6 de out.
  • 4 min de leitura

No último dia da Mostra Vertentes do CineBH, o festival guardou uma surpresa especial: a pré-estreia nacional do longa Assalto à Brasileira. Claro que a gente não ia perder essa! Confira a seguir nossas impressões.


Assalto à Brasileira é uma deliciosa comédia de absurdos

Uma tarde qualquer de Londrina, em 1987

Paulo (Murilo Benício) é um jornalista cansado da profissão e recém-demitido do jornal onde trabalhou por anos. No mesmo dia em que vai ao banco retirar sua rescisão, ele acaba no meio de um assalto à mão armada. Em poucos minutos, se vê refém junto com mais de 300 pessoas em uma das maiores agências de Londrina


No meio desse caos, Paulo percebe que o grupo de assaltantes não possuem a menor experiência em roubos, muito pelo contrário, são amadores. É aí que ele enxerga uma oportunidade de ouro: se oferecer para ser o porta-voz do grupo nas negociações com a polícia. Com acesso livre à cena do crime, Paulo aproveita para entrevistar os reféns, recolher histórias e montar uma grande reportagem, enquanto se deixa levar pela fama instantânea que o caso gera.

Assalto à Brasileira é uma deliciosa comédia de absurdos

Entre o improviso dos ladrões e o espetáculo midiático, a história logo se transforma numa comédia de erros cheia de tensão, ironia e crítica. Baseado em fatos reais, o filme relembra o histórico assalto ao Banestado de 1987, um evento tão inacreditável que só poderia mesmo ter acontecido no Brasil.

A Gangue desse Assalto

O elenco principal e de suporte entregam ótimas atuações, e o destaque, claro, vai para Murilo Benício. Veterano da indústria, ele imprime o nível certo de canalhice e ironia ao jornalista Paulo, transformando um personagem dúbio em um protagonista carismático e divertido de acompanhar.


A trupe de assaltantes também é essencial para o andamento da trama, e funciona muito bem. Matheus Macena traz um tom leve e descontraído, com um timing de comédia preciso, enquanto Robson Nunes segura as rédeas da tensão, equilibrando o grupo. Já o “líder” Moreno, vivido por Christian Malheiros, é quem realmente rouba a cena. Conhecido pela série Sintonia, o ator entrega uma performance cheia de nuances: dá pra sentir em tela o conflito interno de um jovem educado e gentil que, por circunstâncias da vida, acaba vivendo o momento mais perigoso e contraditório de sua trajetória. Uma baita atuação.

Assalto à Brasileira é uma deliciosa comédia de absurdos

Mas nem tudo são flores. A escalação de Paulo Miklos como o comandante Fonseca, por exemplo, não convence totalmente. O personagem, que deveria impor presença e representar uma ameaça real, acaba soando deslocado. O mesmo vale para Fernanda de Freitas, que vive a esposa grávida de Paulo. Talvez por um desvio de direção, sua atuação pende demais para o tom de comédia de esquetes, lembrando o estilo do Porta dos Fundos, o que destoa um pouco do resto do elenco. Nada, porém, que comprometa a experiência. O conjunto segue sólido e divertido de assistir.

Roteiro e Direção

O que faz Assalto à Brasileira funcionar tão bem é o equilíbrio entre uma história inusitada e o olhar afiado de José Eduardo Belmonte. A direção é segura, generosa e cheia de ritmo. Ele sabe conduzir os personagens entre o absurdo e o emocional com naturalidade, transformando uma situação completamente caótica em algo divertido e, às vezes, até tocante.


Os roteiristas também merecem aplausos. O texto é cheio de personagens e, o mais impressionante, todos têm uma função. Cada figura que surge — o gerente morrendo de medo, a senhora da fila que reclama de tudo, o recém-casado meio bobão — ajuda a construir esse microcosmo de um Brasil cotidiano, onde o humor nasce justamente das pequenas tragédias do dia a dia. Essa diversidade de tipos é o que dá alma à comédia e faz o público se enxergar em algum canto daquele banco.

Assalto à Brasileira é uma deliciosa comédia de absurdos

Criar uma gangue de ladrões que entra atirando, causa pânico e depois consegue conquistar a empatia do espectador não é tarefa simples. O roteiro desconstroi as primeiras impressões e mergulha nas camadas de cada personagem, fazendo a gente torcer por eles quase sem perceber. E, por trás de tudo, Belmonte segura o volante com firmeza — sabe quando deixar o riso acontecer e quando puxar o freio para dar espaço à emoção.

É o Brasil do Brasil!

Assalto à Brasileira é mais do que um filme divertidíssimo e cheio de ritmo. É também um retrato espirituoso de um país em crise, e das pequenas tragédias e improvisos que moldam o nosso cotidiano. Por trás do humor e do caos, há uma reflexão sobre a luta de classes, a desigualdade e o valor do dinheiro na vida de pessoas comuns que só tentam sobreviver.

Assalto à Brasileira é uma deliciosa comédia de absurdos

Confesso: às vezes caio na perigosa armadilha de comparar produções nacionais com versões internacionais. E aqui seria fácil soltar um “é tipo uma La Casa de Papel brasileira”. Mas, na real, a série espanhola da Netflix jamais conseguiria ter todo esse estilo, charme e malandragem que Assalto a Brasileira tem de sobra.


E, claro, assistir a tudo isso em tela grande, cercado de um público que vibra, ri e se envolve com cada desventura, só deixa a experiência ainda mais saborosa. É aquele tipo de cinema que lembra por que a gente ama ver histórias (especialmente as nossas) ganhando vida na telona.


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