Porque The Studio é a melhor série de comédia do ano
- Marcos Silva
- há 3 dias
- 4 min de leitura
Atualizado: há 2 minutos
Ainda que já tenhamos visto séries no estilo “por trás das câmeras”, como Entourage ou The Franchise, nenhuma delas chegou nos limites da sátira que The Studio alcançou. É inimaginável o que ocorre na produção, que remexe as estruturas mais antigas de Hollywood de forma exacerbada e inenarrável. Com o encerramento da primeira temporada, enumeramos os motivos pelo qual essa série está sendo uma das mais cotadas para varrer o Emmy desse ano.

Hollywood está em chamas
Nessa primeira temporada, acompanhamos Matt Remick, um executivo que, inesperadamente, se torna o chefe criativo da Continental Studios — um renomado estúdio de Hollywood. Apaixonado por cinema, tudo o que ele quer é trazer essa arte ao seu esplendor, porém agora ele tem que jogar o jogo da indústria. Após Griffin — o verdadeiro chefão da parada, interpretado por Bryan Cranston — comprar os direitos para transformar o Kool-Aid (tipo um Dollynho dos EUA) em filme, Matt precisa tomar posse do projeto e tentar repetir um milagre no estilo de Barbie.
Uma equipe de milhões
A produção é encabeçada por Seth Rogen e conta com um elenco de apoio fenomenal. Ele está impagável como Matt Remick, um chefe carismático e ególatra, que flerta com o narcisismo de um Michael Scott, mas com um ar de mártir defensor das artes cinematográficas.

Além disso, Seth conta com Catherine O’Hara para compor o seu time. Só com esse nome já estaríamos bem servidos. Mas temos também a magnética Kathryn Hahn, que sai do papel da trambiqueira Agatha para dar vida à chefe de marketing Maya. O Ike Barinholtz está ótimo como o melhor amigo de Matt, e a Chase Sui Wonders não fica para trás interpretando Quinn, a novata no time.
Eu amo filmes!
A estrutura dos episódios são fechadas em si como uma boa sitcom, mas a temporada como um todo está tratando de uma história maior. E eles seguem uma linha paradoxal muito interessante. Um episódio foca na gravação de uma cena em plano-sequência imperdível para um filme cult... e o próprio episódio também é um plano-sequência. Outro acompanha os bastidores de um filme noir estrelado por Zac Efron, enquanto o episódio inteiro se transforma numa paródia estilizada do gênero. É cinema dentro do cinema. É genial.

Não é porque a equipe de The Studio está tirando sarro da arte de fazer filmes que a produção da série deixa de lado o apelo estético da série. Os episódios são bonitos, filmados com planos cinematográficos em todo o decorrer dessa primeira temporada.
Seth Rogen e Evan Goldberg apostam em longos takes e ritmos frenéticos. Em entrevista, Rogen definiu o tom da série como “maníaco e apavorado” — e insistiu no estilo quase sem cortes para manter o espectador constantemente desestabilizado.
Nem tudo é perfeito (mas quase)
A série exige certo conhecimento da indústria do cinema para que todas as referências sejam compreendidas — embora mantenha um humor físico e absurdo que pode agradar também a quem está só pela diversão.
Ainda assim, alguns episódios desequilibram o ritmo. O arco da briga por uma vaga no estacionamento, por exemplo, entre Quinn e Sal, é interessante até certo ponto. O mesmo vale para a convenção médica e o debate sobre cinema ser ou não arte — um episódio tão refinadamente cringe que pode afastar o público mais casual.

Felizmente, o episódio seguinte, “Casting”, resgata o fôlego com uma crítica hilária e afiada à cultura do cancelamento, levantando questões como: “estamos escalando protagonistas pretos por consciência ou por medo?”. A série atinge aqui um dos seus ápices.
Cenas inacreditáveis
A sensação é que Seth Rogen ligou o modo improvisação em toda a indústria, e as participações especiais de The Studio se tornaram um verdadeiro “sim, e?”.

Dentre as participações, temos Olivia Wilde protegendo desesperadamente o rolo do seu filme e entrando em surto. O diretor Ron Howard — conhecido por sua gentileza — tendo um ataque de fúria para cima de Matt e até mesmo tirando o boné da cabeça (coisa que ele nunca faz). E claro, Martin Scorsese em prantos após ver seu filme dos sonhos ser tomado de si. É impagável.
O episódio dos Golden Globes
O oitavo episódio simula, com um realismo assustador, uma cerimônia do Globo de Ouro. Tudo foi recriado no próprio Beverly Hilton Ballroom, local oficial do evento, e a lista de participações é a mais insana já vista: Zack Snyder, Zoë Kravitz, Aaron Sorkin, Jean Smart, Adam Scott, Quinta Brunson, Antony Starr, Erin Moriarty, Ramy Youssef, e ninguém mais que Ted Sarandos, o CEO da Netflix fazem participação.

A ideia veio de uma experiência real de Seth Rogen, em que viu um produtor chorar por não ter sido mencionado num discurso de agradecimento.
Conclusão
The Studio é imperdível para qualquer um que ame cinema. Essa é uma produção ousada, nada apressada e completamente fora da caixa. Alguns episódios podem ser mais desafiadores para o público geral, pois a série às vezes parece exigir uma carteirinha de cinéfilo para embarcar na experiência completa.

Mas apesar disso, a presença de Seth Rogen, tanto fora das câmeras quanto em ação na tela, garante que qualquer um possa se divertir sem ressentimentos. Sem exageros: essa é, sim, a melhor série de comédia do ano.
Comentários