top of page
  • Foto do escritorNathália Correia

A linha tênue em “O Milagre”, novo sucesso da Netflix


Em uma sequência de novos lançamentos, a aposta da Netflix para o final de 2022 é “O Milagre”. Estrelado por Florence Pugh (dispensa apresentações), a produção é uma obra do cineasta Sebástian Lelio e já está sendo apontada como possível indicação ao Oscar. Então, vou falar um pouco sobre o que eu achei do filme e a construção da história!


Sebástian é conhecido pelos sucessos “Uma Mulher Fantástica” e “Desobediência”. O cineasta busca distanciar o machismo das representações femininas. Então, suas protagonistas possuem várias camadas e desafiam o status quo de sua época. O mesmo acontece em “O Milagre”, com a personagem de Pugh, Mrs Wright. Ainda que o machismo esteja presente, ela enfrenta tal situação sem recorrer ao estereótipo de mulher radical ou “louca”.


No filme, uma enfermeira é enviada para uma cidade no interior da Irlanda para investigar o caso de uma adolescente, Anna, que não come há quatro meses. Devido ao extenso período de jejum, a cidade se dividiu entre aqueles que a consideram uma farsa e os que a consideram um milagre.


O clima de tensão é construído através do céu cinza, que confere um ar melancólico. Além disso, a falta de luz natural faz com que as casas fiquem escuras por dentro. Assim, o telespectador não consegue enxergar o cenário direito e cria uma dúvida sobre o que está acontecendo. A utilização de planos fechados realça as expressões e os sentimentos dos personagens, tensionando ainda mais certos momentos.


Acima de tudo, o que mais me marcou foi como a obra nos provoca com relação às linhas tênues em “O Milagre”. Uma vez que o debate central gira em torno da disputa entre Ciência x Religião, a todo momento há uma linha tênue prestes a ser cruzada. Por exemplo, a linha entre crença e fanatismo ou razão e emoção. Portanto, ainda que cada um tenha a sua verdade, é difícil não questionar as atitudes de ambos os lados.

A produção também fala muito sobre perspectiva, ou seja, a capacidade de permitir que uma história tenha dois lados. Em um momento do filme, Anna ganha um taumatrópio, que contém o desenho de um pássaro e uma gaiola. Ao ser rodado rapidamente as imagens se juntam e geram a dúvida se o animal está preso ou livre. Contudo, a resposta dessa questão depende da perspectiva de quem o observa.


Assim ocorre em todo o filme. É impossível negar que há um fanatismo religioso, mas ainda assim algumas pessoas podem interpretá-lo de outra maneira. A própria protagonista é desafiada pela mãe de Anna a entender o lado da família e enxergar a vida de acordo com as lentes de quem pensa diferente.




“O Milagre” trata de diversos temas que colocam em dúvidas nossas crenças e certezas. Ainda que o debate entre ciência e religião permaneça no básico de sempre, o resultado é um filme cheio de referências. Vale a pena assistir mais essa atuação impecável de Florence Pugh e se permitir enxergar os dois lados da moeda (apesar de só um parecer o certo rs).

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page