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Foto do escritorMarcos Silva

O Dia Que Te Conheci - André Novais mostra o amor em BH enquanto a vida acontece

Atualizado: 26 de set.

No dia 21 de setembro, o Pippoca esteve presente na pré-estreia de O Dia Que Te Conheci, em Belo Horizonte. O novo longa de André Novais, com estreia marcada para 26 de setembro, contou com um debate especial ao lado dos protagonistas Renato Novaes, Grace Passô e do próprio diretor.

O Dia Que Te Conheci - André Novais mostra o amor em BH enquanto a vida acontece

O filme acompanha a história de Zeca, um bibliotecário que enfrenta o dilema de tentar levantar cedinho para pegar o ônibus e chegar à escola onde trabalha, na cidade vizinha. No entanto, algo dentro dele parece sabotar esse cotidiano cada vez mais. É quando Zeca conhece Luisa, uma colega de trabalho que lhe traz a notícia de sua demissão. A partir desse dia, um inesperado vínculo se forma entre eles, marcando o início de uma transformação em suas vidas.


E como nasceu esse dia?

André, o diretor, conta que a ideia inicial do filme partiu de uma situação cotidiana: um amigo de um amigo pediu para ser acordado mais cedo no dia seguinte. A partir dessa cena tão comum, surgiu a inspiração para o ponto de partida do longa. 

O Dia Que Te Conheci - André Novais mostra o amor em BH enquanto a vida acontece

Além disso, André também compartilha a vontade de fazer o filme o mais rápido possível, sem depender dos editais ou de recursos demorados. “O filme parte de um lugar de urgência, de vontade de colocar pra fora, falar destes temas dessa forma. E isso tem a ver até com a formação de uma equipe pequena, poucas pessoas no elenco e o plano de filmagem de onze diárias para cobrir a história do filme.”



O cinema do André nasce de um clique, uma inspiração que ocorre e ferve no seu âmago até que seja executada. Filmar em um tempo tão curto faz com que o uso de locações reais sejam um charme à parte. Qual mineiro não cruzou o Viaduto Santa Tereza e talvez até ficou para apreciar uma boa cerveja ao final do expediente? Essa pulsação de uma ideia quase viva junto da empolgação em concretizá-la traz uma fluidez que é transposta para a tela de maneira magnífica.


A naturalidade que conquista

A química entre Luísa e Zeca no filme está mais do que afiada, e não foi por acaso. Segundo o elenco, essa sintonia foi construída aos poucos, durante o processo de filmagem: "Foi na base de negociação o tempo todo, é técnica e muita conversa. Grace e ‘Dé’ são muito generosos, escutam e aceitam bastante as opiniões." disse Renato sobre o entrosamento.

O Dia Que Te Conheci - André Novais mostra o amor em BH enquanto a vida acontece

O ponto alto do filme é o roteiro, que traz diálogos ditos de maneira tão natural e se preocupa em se manter fiel à realidade o quanto possível. O sotaque, a forma de falar totalmente características de quem vive em Belo Horizonte e os seus arredores faz parecer que só ligaram uma câmera e capturaram o que acontecia. Sobre este aspecto de parecer improvisação tamanha naturalidade do roteiro, Grace nos disse:


"Tudo nos direcionava para esse lugar, para criar essas situações do jeito que a gente faz ali. Tudo isso é texto decorado, e o que não é texto decorado também é técnica. Improvisação também é técnica. André pedia antes, quando era preciso, e a gente se planejava e trazia para fazer. Em algumas cenas muito específicas, nós planejamos antes."


O filme é recheado de momentos cotidianos que, à primeira vista, podem parecer banais: “Ele se encontra com a criança dentro do ônibus, com a mãe dela também, com o cara que chama ele pra comer pastel. Ele olha o celular e vê um bebê… todos os encontros te dão a sensação de que aquilo pode se desenvolver e seguir, até que um específico se desenvolve.”

O Dia Que Te Conheci - André Novais mostra o amor em BH enquanto a vida acontece

A relação entre esses encontros, os silêncios e os diálogos cria uma espécie de sinfonia harmônica. “Tem muito humor nesse ritmo dos dois, uma sem graceza de encontrar o outro. Foge de certos formatos de coisas que deram certo, de certas competências sociais e comportamentais. Tem uma graciosidade que vem desse humor e desse olhar…" comentou Grace. O silêncio, aqui, é quase tão importante quanto as falas, compondo uma atmosfera que aproxima o público da realidade dos personagens.


A dedicação, o impacto e a representatividade

Renato Novaes expressa o afeto e a dedicação da equipe da produtora Filmes de Plástico: “Eles estão entendendo a dimensão que têm. Os caras tem o Marte Um no catálogo, que já foi um dos representantes do Brasil no Oscar. Não tem nem o que falar! É uma sorte termos essa rede de apoio. Eu sinto que estou contribuindo com o que eles propõem.”


Sobre a recepção do filme, Grace comenta: “As pessoas estão indo ver de novo. Todo mundo tá entendendo muita coisa desse filme, em termos de retorno. Claro, tem muita pergunta nada a ver mesmo, mas se não tivesse alguma coisa estaria errada, tem muitas viagens, mas de modo geral acho que tá super rolando!”



Ela também dá um show ao falar sobre a representatividade e a importância de se sentir à vontade no set:

“Quando eu entro em cena e fico à vontade em um set, fico pensando em quem já se sente à vontade há muito tempo, e como isto está ligado a uma série de movimentos sociais, com a vida na periferia e com a negritude. Atores e atrizes que passaram muito tempo atuando dentro de uma poética do outro, começam a atuar dentro da sua própria poética, e é isso que me faz sentir à vontade.”

O Dia Que Te Conheci - André Novais mostra o amor em BH enquanto a vida acontece

“É falar do que eu sei. Falar sobre minha vida, esse pastel, esse cara que atrasa…Muita gente poderia ler o roteiro e pensar que era só uma graça. Eu leio o roteiro do André e vejo que é profundo. Essa mulher chega lá pra despedir esse cara, ela tá puta, porque foi uma outra mulher da escola que falou ‘você que é negra que vai lá despedir o outro’, quem é sabe e lê isso…”


“Ela precisa resolver e não vai perder o trabalho, ela vai lá despedir esse cara, puta com a outra, mas ela vai lá. Porque isso é das nossas mulheres, que pega o rolê e resolve. E essas sagas vão viver juntas até descobrir como sair deste problema que está posto, dessa pessoa que não acorda. Talvez outra pessoa que leria simplesmente como um cara preguiçoso. Não me interessa se ele é, porque por trás disso tudo tem algo que está muito nas nossas vidas.“



“Essa história de se sentir à vontade e do afeto é real, mas não só porque ela é fofa e legal, existe uma intenção por parte desses criadores, e da gente [do elenco] de existir, existe uma intenção de existir. Essa intenção pode ser lido como política ou por sobrevivência, porque não existir é muito chato!”


E o que achamos de O Dia Que Te Conheci

Embora rotulado como uma comédia romântica, o longa vai além, fazendo uma ode à simplicidade em um mundo obcecado por grandiosidades. Com leveza, ele apresenta situações dramáticas que revelam a complexidade dos personagens. A direção de André Novais utiliza ângulos que capturam os detalhes de uma casa cheia de vida, transformando Belo Horizonte em um personagem à parte.

O Dia Que Te Conheci - André Novais mostra o amor em BH enquanto a vida acontece

Sabe quando você vê uma produção filmada no Leblon ou em Nova York, e você se pega desejando viver naquela realidade, apenas para voltar à sua e sentir que nada nela parece tão empolgante? Pois bem, essa sensação surge da falta de conteúdo que retrata a beleza da nossa própria realidade de maneira clara e poética. Quando percebemos que existe beleza na periferia, e ela pode sim ser retratada de maneira poética, é onde esses diretores autorais, como André Novais, recebem toda a importância que eles merecem ter.


O silêncio se revela como o verdadeiro ouro da história, e faz com que os diálogos construam uma narrativa marcante. O longa traz para a audiência a capacidade de se apaixonar por sua própria vida da maneira que ela está se apresentando no momento presente, na aventura do cotidiano e de se jogar na vida.  É um amor moderno iluminado pelas luzes de Belo Horizonte, revelando a riqueza de ser preto e periférico sem precisar romantizar nada, mas trazendo irreverência e drama em perfeita harmonia.


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