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Foto do escritorMarcos Silva

O Clube das Mulheres de Negócios tenta quebrar o tabu, mas fica na média

Atualizado: 29 de nov.

O mais novo filme da diretora Anna Muylaert, homenageada deste ano do CineBH, finalmente chega às telonas. O Clube das Mulheres de Negócios será lançado nos cinemas no dia 28 de novembro, e a seguir trazemos nossas impressões sobre essa nova e ousada empreitada da cineasta.


Boas Vindas ao Clube

Na história, o renomado fotógrafo Jongo e o jornalista recém formado Candinho chegam a um luxuoso clube de campo em São Paulo para cobrir uma matéria. Comandado por Cesárea e Brasília, o espaço é palco de reuniões entre bilionárias que lideram as maiores potências econômicas do país. Mas, por trás do ambiente requintado, há segredos bem guardados que só aguardam o momento de vir à tona.

O Clube das Mulheres de Negócios tenta quebrar o tabu, mas fica na média

Enquanto Jongo, com sua expertise, se mantém alerta aos movimentos suspeitos do local, Candinho vê seu mundo virar de cabeça ao testemunhar revelações escandalosas sobre como aquelas mulheres poderosas manipulam a justiça em prol dos seus interesses. Chocado com as revelações, o jovem começa a repensar o seu laço familiar e suas crenças sobre quem comanda o lugar.


Tudo muda quando um perigo selvagem e inesperado irrompe naquele clube,  transformando o dia de luxo e negociações em uma corrida frenética pela sobrevivência. Misturando drama, thriller e uma dose de humor ácido, a trágica comédia aborda temas como o machismo, o patriarcado, a desigualdade social e a corrupção enraizada na cultura brasileira, expondo as engrenagens de um sistema podre, mas invertendo o espelho para sustentar uma reflexão.

Pontos Positivos

As atuações estão dentro do esperado, cumprindo o que o filme propõe. Um dos papeis de destaque, ainda que divisivo, é o de Zarife, interpretada por Katiuscia Canoro. A atriz se joga na caricatura e traz o exagero necessário para a personagem: uma guarda-costas miliciana que ama armas e faz vista grossa para proteger as bilionárias. Já Cristina Pereira joga de maneira mais sutil como Cesárea, uma figura poderosa que domina a cena com tranquilidade e sabe exatamente como manipular o ambiente ao seu redor. E a dupla Rafa Vitti e Luís Miranda traz uma leveza divertida com sua dinâmica, equilibrando bem o tom do restante do elenco.

O Clube das Mulheres de Negócios tenta quebrar o tabu, mas fica na média

Os figurinos do filme são uma boa sacada. Eles causam estranheza no início, mas nos ajudam a captar bem rápido a mensagem de inversão de gênero que o filme propõe. Sobre o CGI das onças, eu reservo este gosto positivo para mim. Embora seja óbvio que não são reais, os efeitos entregam o suficiente para sustentar a proposta do filme e combina com o tom caricato que ele se lança.


Outro ponto bem vindo é o equilíbrio entre tensão e comédia. O filme não economiza em momentos que chocam e causam desconforto, mas também faz rir em cenas estratégicas. Pessoalmente, preferiria que a comédia fosse ainda mais escrachada: acho que o exagero caberia bem no contexto. Mas, no geral, o humor funciona dentro da proposta

.

Pontos Negativos

Os diálogos são um tantinho expositores, o que enfraquece a narrativa. Entendo a decisão de ir para algo de maior compreensão do público, mas não deixo de pensar se as falas das magnatas não pudessem ser mais sutis, especialmente considerando o perfil dessas personagens: pessoas com tanto poder e desprezo pelas regras provavelmente falariam de forma mais implícita, mesmo quando entre si.

O Clube das Mulheres de Negócios tenta quebrar o tabu, mas fica na média

O ritmo do filme também é problemático. Apesar de um início compreensivelmente mais lento para apresentar o contexto, a história se arrasta mesmo depois de atingir o ponto alto. Na noite de terror em que as onças escapam, muitas cenas parecem não levar a lugar algum, e faltam elementos de terror animal que poderiam tornar essa ameaça mais impactante. Além disso, falhas de continuidade na montagem tornam o ritmo ainda mais truncado.


Em certos momentos, a sensação é de esperar ansiosamente pelo final, mas não no bom sentido. Ficamos presos com personagens detestáveis e sem conexão suficiente com suas histórias para nos importarmos com suas mortes. Isso tira qualquer ânimo e transforma a experiência em algo somente cansativo.

Conclusão

Afinal, O Clube das Mulheres de Negócios apresenta uma premissa interessante, com potencial para discussões importantes sobre poder, corrupção e desigualdade, mas tropeça na execução. O ritmo inconsistente, diálogos estranhos e personagens desinteressantes deixam a sensação de que o filme poderia ter sido muito mais impactante do que foi.

O Clube das Mulheres de Negócios tenta quebrar o tabu, mas fica na média

Em muitos aspectos, o longa lembra a crítica social ácida de Triângulo da Tristeza e o clima de exclusividade crescente de The White Lotus. No entanto, ele me deixou sozinho com a tarefa de me esforçar para gostar mais do que realmente consegui. Faltou aquele algo a mais…


Apesar disso, o desfecho traz um certo alívio e fecha a história de forma simpática, sem deixar um gosto amargo na boca. É um filme que fica na média, com alguns momentos isolados de brilho, mas que não alcança todo o potencial da ideia inicial.


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