O mais novo filme da diretora Anna Muylaert, homenageada deste ano do CineBH, finalmente chega às telonas. O Clube das Mulheres de Negócios será lançado nos cinemas no dia 28 de novembro, e a seguir trazemos nossas impressões sobre essa nova e ousada empreitada da cineasta.
Boas Vindas ao Clube
Na história, o renomado fotógrafo Jongo e o jornalista recém formado Candinho chegam a um luxuoso clube de campo em São Paulo para cobrir uma matéria. Comandado por Cesárea e Brasília, o espaço é palco de reuniões entre bilionárias que lideram as maiores potências econômicas do país. Mas, por trás do ambiente requintado, há segredos bem guardados que só aguardam o momento de vir à tona.
Enquanto Jongo, com sua expertise, se mantém alerta aos movimentos suspeitos do local, Candinho vê seu mundo virar de cabeça ao testemunhar revelações escandalosas sobre como aquelas mulheres poderosas manipulam a justiça em prol dos seus interesses. Chocado com as revelações, o jovem começa a repensar o seu laço familiar e suas crenças sobre quem comanda o lugar.
Tudo muda quando um perigo selvagem e inesperado irrompe naquele clube, transformando o dia de luxo e negociações em uma corrida frenética pela sobrevivência. Misturando drama, thriller e uma dose de humor ácido, a trágica comédia aborda temas como o machismo, o patriarcado, a desigualdade social e a corrupção enraizada na cultura brasileira, expondo as engrenagens de um sistema podre, mas invertendo o espelho para sustentar uma reflexão.
Pontos Positivos
As atuações estão dentro do esperado, cumprindo o que o filme propõe. Um dos papeis de destaque, ainda que divisivo, é o de Zarife, interpretada por Katiuscia Canoro. A atriz se joga na caricatura e traz o exagero necessário para a personagem: uma guarda-costas miliciana que ama armas e faz vista grossa para proteger as bilionárias. Já Cristina Pereira joga de maneira mais sutil como Cesárea, uma figura poderosa que domina a cena com tranquilidade e sabe exatamente como manipular o ambiente ao seu redor. E a dupla Rafa Vitti e Luís Miranda traz uma leveza divertida com sua dinâmica, equilibrando bem o tom do restante do elenco.
Os figurinos do filme são uma boa sacada. Eles causam estranheza no início, mas nos ajudam a captar bem rápido a mensagem de inversão de gênero que o filme propõe. Sobre o CGI das onças, eu reservo este gosto positivo para mim. Embora seja óbvio que não são reais, os efeitos entregam o suficiente para sustentar a proposta do filme e combina com o tom caricato que ele se lança.
Outro ponto bem vindo é o equilíbrio entre tensão e comédia. O filme não economiza em momentos que chocam e causam desconforto, mas também faz rir em cenas estratégicas. Pessoalmente, preferiria que a comédia fosse ainda mais escrachada: acho que o exagero caberia bem no contexto. Mas, no geral, o humor funciona dentro da proposta
.
Pontos Negativos
Os diálogos são um tantinho expositores, o que enfraquece a narrativa. Entendo a decisão de ir para algo de maior compreensão do público, mas não deixo de pensar se as falas das magnatas não pudessem ser mais sutis, especialmente considerando o perfil dessas personagens: pessoas com tanto poder e desprezo pelas regras provavelmente falariam de forma mais implícita, mesmo quando entre si.
O ritmo do filme também é problemático. Apesar de um início compreensivelmente mais lento para apresentar o contexto, a história se arrasta mesmo depois de atingir o ponto alto. Na noite de terror em que as onças escapam, muitas cenas parecem não levar a lugar algum, e faltam elementos de terror animal que poderiam tornar essa ameaça mais impactante. Além disso, falhas de continuidade na montagem tornam o ritmo ainda mais truncado.
Em certos momentos, a sensação é de esperar ansiosamente pelo final, mas não no bom sentido. Ficamos presos com personagens detestáveis e sem conexão suficiente com suas histórias para nos importarmos com suas mortes. Isso tira qualquer ânimo e transforma a experiência em algo somente cansativo.
Conclusão
Afinal, O Clube das Mulheres de Negócios apresenta uma premissa interessante, com potencial para discussões importantes sobre poder, corrupção e desigualdade, mas tropeça na execução. O ritmo inconsistente, diálogos estranhos e personagens desinteressantes deixam a sensação de que o filme poderia ter sido muito mais impactante do que foi.
Em muitos aspectos, o longa lembra a crítica social ácida de Triângulo da Tristeza e o clima de exclusividade crescente de The White Lotus. No entanto, ele me deixou sozinho com a tarefa de me esforçar para gostar mais do que realmente consegui. Faltou aquele algo a mais…
Apesar disso, o desfecho traz um certo alívio e fecha a história de forma simpática, sem deixar um gosto amargo na boca. É um filme que fica na média, com alguns momentos isolados de brilho, mas que não alcança todo o potencial da ideia inicial.
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