Andor é a obra-prima do universo Star Wars, e aqui está o porquê
- Marcos Silva
- há 2 minutos
- 4 min de leitura
Em alguns momentos, Andor sequer parece Star Wars. O que é entregue na série lembra muito mais Os Homens do Presidente do que O Retorno de Jedi. É política suja, paranoia, e monólogos tensos que mais parecem roteiros do Aaron Sorkin em um dia de raiva.
A série mais aclamada do universo Star Wars chega ao seu fim com a segunda e última temporada lançada no Disney+. Então separamos aqui alguns pontos chave que consolidam Andor como uma das obras mais importantes da saga — e, talvez, da televisão nesta década.

Ação e Ritmo
Na primeira temporada, Andor foi elogiada por ser mais contemplativa e focar na construção de personagens. Já na segunda temporada, observamos uma aceleração no ritmo e maior presença de cenas de ação. Apesar dessa mudança, a série consegue com êxito manter a qualidade da produção e aproveitar para aprofundar mais na complexidade política que envolve o Senado Galáctico, o Império e a junção das células da Rebelião.

Já se percebe essa nova pegada na cena inicial, onde Cassian tenta escapar de uma estrutura imperial pilotando, aos apuros, uma Tie Fighter. Cena que remete na hora a agilidade vista em Rebels ou na nova trilogia dos filmes. Tony Gilroy entendeu que, para entregar o desaguar de Andor em Rogue One, era preciso apertar o passo, mas sem comprometer tudo que já foi consolidado antes com tanta precisão.
Atuações e Personagens
Cenas que jamais imaginei ver em uma produção do universo Star Wars: um casamento arranjado sustentado por tradições tão antigas que nem sequer se permitem ser questionadas; uma tentativa de abuso sexual cometida por um agente imperial; e um massacre covarde, cometido a céu aberto, em plena praça pública.
Momentos tão delicados e brutais exigem um elenco à altura — e Andor entrega isso com sobras. Denise Gough aprofunda a tirania de Dedra Meero com uma frieza que chega a gelar. Genevieve O’Reilly oferece à Mon Mothma uma densidade emocional rara, revelando os custos pessoais da política em cada olhar contido. Elizabeth Dulau brilha discretamente até explodir no final da temporada como Kleya Marki. Forest Whitaker entrega um Saw Gerrera mais paranoico e instável do que nunca. E Diego Luna, é claro, carrega o trauma e o carisma de Cassian Andor com uma entrega que torna cada silêncio mais presente do que qualquer fala.
Roteiro, Fotografia e Direção de Arte
A fotografia que já era um primor na primeira temporada com seus contrastes marcantes entre os tons imperiais em preto e branco e os cenários terrosos da periferia galáctica, ganha agora uma paleta mais vibrante em alguns momentos iniciais da nova temporada. Ainda assim, cada escolha visual segue comprometida com a narrativa — nada é gratuito.

A direção de arte também segue essa lógica: nada de excessos digitais. Os cenários práticos, as locações reais e a ambientação detalhada falam por si, carregando parte da história nos objetos, texturas e atmosferas que rodeiam os personagens. Poucos personagens não humanos aparecem, a fim de deixar o clima menos fantasioso. A sinergia entre o roteiro, a fotografia e a direção de arte foi fundamental para criar essa coesão da série.
O Massacre de Ghorman
Assim como a temporada inicial, temos uma história dividida em pequenos arcos, dessa vez apontando uma linha temporal ao avançar, que, cada vez mais se aproxima da Batalha de Yavin, retratada em Uma Nova Esperança.
Entre esses arcos, o de Ghorman se destaca como ponto crucial da temporada. Ao longo de cinco episódios, acompanhamos a escalada da opressão imperial sobre a população local, até culminar em uma das cenas mais brutais de Star Wars: o massacre de civis desarmados em plena praça pública.

Esse evento violento tem desdobramentos imediatos, principalmente para Mon Mothma, que, diante da tragédia, rompe de vez com o Senado e denuncia publicamente o regime imperial. A construção narrativa desse arco remete a eventos reais como a resistência francesa na Segunda Guerra Mundial, nos deixando desolados e mostrando o lado de uma rebelião que foi escolhida como a única forma de contrabalancear o peso da injustiça.
O Legado de Andor
Quem diria que o filme que foi na tangente da saga principal de Star Wars, que recebeu uma série spin off, acabaria se tornando o produto mais refinado de toda a franquia? Afastando-se dos elementos místicos da Força para focar em uma rebelião fundamentada na realidade política e social, a existência da série Andor contribui com uma profundidade e peso para completamente toda a saga a partir desse ponto. É impossível assistir a Rogue One ou a trilogia clássica novamente e não sentir algo diferente.

É curioso pensar que uma série tão pouco vista tenha se tornado tão essencial assim, ao ponto de mudar o ritmo narrativo de décadas de uma franquia já consagrada. Mas, rebeliões são assim: silenciosas no começo, cheia de sacrifícios por um bem que talvez não se veja, mas se sinta. Rebeliões são feitas de esperança. Se não viu Andor ainda, se rebele - assista o mais rápido possível!
Comments