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A Grande Viagem da Sua Vida é contemplativo e poético

  • Foto do escritor: Marcos Silva
    Marcos Silva
  • 17 de set.
  • 3 min de leitura

Já pensou em poder revisitar momentos-chave da sua vida e ter o poder de mudar completamente a forma como você enxerga o mundo? Essa é a premissa de A Grande Viagem da Sua Vida, filme que chega aos cinemas no dia 18 de setembro. Posso adiantar que é uma das boas surpresas do ano. Vem que eu te conto mais!

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Portas são complicadas

David vai sozinho a um casamento de um amigo. Sua noite muda quando ele conhece Sarah, com quem rapidamente cria uma conexão. O acaso os leva a compartilhar uma viagem, guiada pelo GPS do carro de David, que os conduz até uma porta vermelha isolada no meio de uma lindo campo.

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Eles decidem atravessar a porta, e acabam mergulhando em uma aventura pelo tempo, onde revisitam momentos marcantes de suas próprias vidas. Entre memórias do passado, David e Sarah descobrem não só quem foram, mas também quem ainda podem se tornar. Os dois juntos são os pilares de uma road trip existencial que mistura fantasia e romance com um olhar delicado sobre as escolhas que moldam a vida. 

Dois estranhos e um casamento na chuva

Para Margot Robbie é muito fácil roubar a cena. Aqui ela pega toda sua bagagem como atriz e dá um show, criando nuances dramáticas e cativantes para Sarah. O papel dela se amplifica tendo como parceiro o magnífico Colin Farrell. O divo abandona aquela maquiagem pesada do Pinguim e retoma o charme contido e o olhar melancólico dele para compor o David. É uma química instantânea desde a primeira cena juntos, e que sustenta a narrativa quase inteira apenas pela intensidade da relação que constroem em cena.

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O elenco de apoio também acrescenta brilho à trama. Destaco aqui a pequena, mas simpática, aparição de Phoebe Waller-Bridge - para os órfãos de Fleabag - e a delicadeza calorosa da atuação de Lily Rabe como a mãe de Sarah, presença que traz grande impacto para o desfecho da história.

Estranhamente lindo ou lindamente estranhoUm dos grandes destaques do filme se encontra no trabalho da fotografia. As cenas são construídas com cores escuras em alto contraste, ao mesmo tempo vibrantes, criando uma atmosfera que flutua entre o real e o onírico. A maioria dos frames possui uma fonte de luz que guia o olhar do espectador. Postes, lâmpadas, reflexos e até a própria lua parece ter uma iluminação ainda mais radiante para combinar com o tom fantasioso da história. Tem uma brincadeira entre a cor azul e vermelho no figurino, que parece muito a técnica que A Verdadeira Dor utilizou para compor aspecto “opostos complementares” dos personagens principais.

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Esse equilíbrio estético dialoga com a assinatura de Kogonada, conhecido por seu estilo contemplativo em Columbus, pela precisão simétrica de seus enquadramentos e pela sensibilidade já vista em Pachinko e os episódios mais contemplativos de The Acolyte. Aqui, ele mistura esse olhar com o roteiro de Seth Reiss (O Menu), que arma um truque engenhoso: apresenta-se como linear, mas vai lentamente impondo suas próprias regras para aquele universo fantástico, sem nunca confundir o espectador.


Boa parte do peso dramático vem dos diálogos. Conversas banais, lembranças mundanas ou até trocas aparentemente sem importância acabam se revelando essenciais para o tom do filme. São momentos que falam menos sobre grandes acontecimentos e mais sobre o simples ato de existir. E é justamente essa simplicidade que dá força à experiência.

Sendo contentes juntos

A Grande Viagem da Sua Vida não aposta em grandes reviravoltas ou explosões narrativas, mesmo partindo de uma premissa que poderia facilmente resvalar no caos. Kogonada conduz a história com uma direção sensível, guiada mais pelo sentimento do que pelo espetáculo. Ele passeia por símbolos muito bem consolidados das comédias românticas, mas com seu olhar delicado, nunca cai na obviedade.

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A verdadeira viagem proposta não é pelo tempo ou pelas memórias, mas pelo que cada um descobre dentro de si. E é nessa simplicidade que o filme encontra sua força: uma experiência que, sem pressa e sem alarde, traduz a poesia do que é estar vivo — e, nesse caso, estar junto.


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