A convite da Espaço Z e da Disney, assistimos em primeira mão A Verdadeira Dor, indicado ao Oscar por Melhor Roteiro Original e Melhor Ator Coadjuvante com Kieran Culkin como favorito. O filme chega aos cinemas brasileiros no dia 30 de janeiro. E esse filme vale o hype, sim! Vem que eu te conto o porquê!
Dois primos, duas visões de mundo
David e Benji não se veem há anos, mas acabam se reunindo em uma viagem à Polônia. Juntos, eles acompanham um grupo de judeus numa excursão em memória do Holocausto. Aproveitando a estadia no país, eles também irão visitar a casa que a avó, sobrevivente da tragédia e que faleceu recentemente, morou durante toda sua vida a fim de se reconectarem com as raízes da família.

David (Jesse Eisenberg) é um pai reservado e contido enquanto Benji (Kieran Culkin) é o seu completo oposto extrovertido e livre. Acompanhamos a dinâmica conflituosa dessa dupla em uma viagem emocional e repleta de tensões, onde aventuras inesperadas colocarão o amor e o afeto entre eles à prova. Tudo isso é conduzido pelo roteiro afiado e a direção sensível de Jesse Eisenberg.
Um filme sobre o holocausto nunca feito antes…
Foi com essa ideia em mente que Jesse Eisenberg começou a moldar a história de A Verdadeira Dor. O Holocausto já foi ângulado de diversas formas no cinema, em filmes como o italiano A Vida é Bela (1997) e Jojo Rabbit (2019) de Taika Waititi, que se aproximam para falar do tema apresentando visões diferentes. Aqui, Jesse aposta em equilibrar elementos de comédia sem perder a seriedade do tema.
O ator, que se aventura na direção pela segunda vez, assume as rédeas do filme: toma conta do roteiro até a edição, adicionado a uma atuação sólida. A comédia surge de situações desajeitadas e momentos não planejados, que dá ao filme uma identidade própria, criando momentos descontraídos sem banalizar o assunto que ele escolheu abordar.

As cores mornas dominam a fotografia, criando uma atmosfera que casa bem com a narrativa. Existe uma interessante escolha no uso das roupas dos primos: no início, Benji (Kieran Culkin) veste vermelho, enquanto David (Jesse Eisenberg) usa azul. Conforme a história avança, as cores vão se misturando e alternando entre os dois, como se refletissem neles o lento processo de entendimento (ou falta dele). É um detalhe sutil, mas que adiciona uma camada extra à dinâmica complexa dos personagens.
O elenco e a “musa” de Jesse Eisenberg
Todo o elenco de apoio, incluindo Will Sharpe, Jennifer Grey e Kurt Egyiawan, entrega performances sólidas, trazendo vida ao grupo que acompanha os protagonistas na excursão. Jesse Eisenberg, por sua vez, interpreta aquele típico nerd atrapalhado que quer controlar tudo à sua volta, o que é um contraste direto com o primo. Mas, ao final da sessão, só um nome domina a mente (e o coração): Kieran Culkin. Em entrevista, Jesse admite com empolgação o encantamento do ator com a entrega de Kieran. E a gente
não pode discordar!

Precisamos agradecer imensamente à produtora Emma Stone, que “chantageou” Kieran para puxá-lo de volta ao filme, do qual ele estava quase desistindo. Muito Bella Baxter da parte dela!
O ator está na sua zona trazendo à vida o tipo de personagem que ele domina com maestria, lembrando o carisma de Roman Roy, de Succession. Benji é o primo descolado que todo mundo quer como amigo: gentil, cheio de elogios fáceis e dono de um charme irresistível. Mas, por trás dessa fachada, ele está em pedaços. A perda da avó, com quem tinha uma ligação profunda, e a sensação de ser uma fraude por “não ter dado certo na vida” o deixaram alguém impulsivo e cheio de conflitos internos. Kieran tira de letra e justifica com sobras sua vitória no Globo de Ouro.

Pela primeira vez, um filme de ficção foi autorizado a filmar em um campo de concentração real. E para isto acontecer o diretor precisou tomar uma abordagem respeitosa. Filmar as cenas dentro de um campo de concentração foi como encontrar um pesar que nunca nenhum dos atores sentiu antes. A cena é filmada em completo silêncio, onde os personagens caminham pelo local enquanto a câmera capta as emoções cruas e as memórias remanescentes. É um silêncio necessário que corta e convida o público a refletir junto com eles. Um momento afiado e inesquecível
A dor de não se encontrar
Em suma, A Verdadeira Dor é uma obra com um roteiro bem estruturado e fechado, que explora com profundidade todos os poréns possíveis da dinâmica e relação interpessoais desses dois indivíduos tão diferentes, mas que se completam de maneira única. Os atores estão em perfeita sincronia, e a obra se mostra emocionante e cativante.

O filme nos faz refletir sobre a dor de não encontrar um propósito na vida: quando todos ao seu redor te amam, mas você não consegue se amar. Abordando os pormenores entre se depreciar e se perdoar, ele olha para o passado tentando entender algo do futuro, inquietações que permeiam qualquer ser humano que vive exatamente nesta década que aqui estamos. Afinal, são várias as dores retratadas ao longo da trama, mas sem tentar responder nenhuma delas, o filme te questiona: seria essa a verdadeira dor?
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