Amores Materialistas: quando o amor vira produto
- Maurício Neves
- há 4 minutos
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Após sua grande estreia com Vidas Passadas (2023), Amores Materialistas é o novo filme escrito e dirigido por Celine Song. Explorando temas como intimidade, identidade e relacionamentos modernos, o projeto conta com Dakota Johnson, Chris Evans e Pedro Pascal no elenco.
Com distribuição internacional pela A24, o filme chega aos cinemas brasileiros pela Sony Pictures no dia 31 de julho. A convite da distribuidora, assistimos ao longa antecipadamente. Confira a seguir o que achamos.

Enredo
Enquanto ainda nutre sentimentos pelo garçom aspirante a ator John (Chris Evans), a casamenteira Lucy (Dakota Johnson) se vê em um triângulo amoroso complicado ao começar um relacionamento com Harry (Pedro Pascal), um homem rico e irmão do noivo de um casal que ela ajudou a juntar com sucesso. Harry parece ser o partido ideal, mas, ao reencontrar John certa noite, Lucy se vê balançada pelo antigo amor.

Roteiro
O filme começa na pré-história humana, mostrando o início de uma relação amorosa, para contrastar esse momento com como lidamos com o amor atualmente.
No presente, Lucy é uma “matchmaker” (casamenteira, em português — embora eu não curta esse termo) de sucesso, que já conseguiu unir nove casais. No entanto, ela mesma ainda não encontrou sua pessoa “ideal”.
O ritmo do filme é lento, o que nos leva a refletir sobre a superficialidade com que passamos a tratar os relacionamentos. Somos carentes por natureza, mas também cada vez mais exigentes. Muitas vezes buscamos algo idealizado e nem sempre refletimos se estamos realmente no nível que exigimos dos outros. Inclusive, em certo momento do filme, Lucy se frustra com os padrões irreais de seus próprios clientes.
Quando conhece Harry, ela percebe que ele tem tudo o que ela queria: é rico, alto, inteligente, bonito… Porém, por mais que tentem, a química simplesmente não acontece.
Embora o filme não foque tanto nos clientes de Lucy, Sophie é a personagem que mais ganha destaque, mostrando suas decepções e angústias após tantos encontros frustrantes — incluindo um que sai completamente do controle.
Levando isso para a realidade, deixamos realmente de nos preocupar com quem a pessoa é, e passamos a nos importar com o que ela tem a oferecer. Em um mundo cada vez mais digital, vivemos uma vida cheia de filtros, onde a realidade é mascarada. Mas, no fim do dia, todos estamos sozinhos, procurando pela mesma coisa.
Apesar de levantar bons questionamentos, o filme em muitos momentos soa básico e até vazio, com a sensação de que falta algo. Ainda assim, a cena que rola durante os créditos é bem bacana.

Elenco
Dakota Johnson costuma se envolver em várias enrascadas cinematográficas — talvez culpa de seu assessor —, mas aqui podemos dizer que ela se encaixa bem na personagem. Apesar de alguns diálogos parecerem irreais, ela entrega o que o papel exige.
Chris Evans é um ator que amadureceu bastante ao longo dos anos. Aqui, ele também entrega uma interpretação crível, e sua química com Dakota funciona.
Pedro Pascal é o queridinho do momento, mas talvez seu personagem seja o mais perdido na história. Embora o ator tenha muito carisma, talvez seja hora de dar um descanso à sua imagem — só nos últimos dois anos, seu nome apareceu em nove produções audiovisuais.
Zoë Winters também merece destaque: a atriz consegue transmitir muito bem as angústias e decepções relacionadas aos relacionamentos — algo que muitos vivem no dia a dia.

Considerações
Sim, Amores Materialistas é um clichê. E talvez essa tenha sido a proposta de Celine Song. Sua estreia em 2023 foi amplamente elogiada e indicada a diversas premiações, o que naturalmente elevou as expectativas para sua nova produção. Confesso que ainda não assisti Vidas Passadas, mas fiquei curioso depois desse filme.
Amores Materialistas reúne um elenco carismático e bem conhecido do público, principalmente os fãs das produções da Marvel — talvez isso explique o hype em torno do longa.
A trilha sonora conta com composições criadas especialmente para o filme, demonstrando um cuidado em todas as etapas do projeto. As músicas realmente se encaixam nas cenas e não parecem inseridas aleatoriamente.
A ambientação remete à sensação de estar assistindo a um episódio de Sex and the City — a qualquer momento, parece que Carrie e suas amigas vão aparecer em cena. Já a fotografia traz constantemente um contraste negativo que, pessoalmente, não me agrada, mas pode ter sido uma escolha estética para reforçar a superficialidade com que os relacionamentos são tratados.
Amores Materialistas é um filme que não vai surpreender com um grande desfecho, mas sua proposta de abordar as relações contemporâneas ainda é algo pouco explorado no cinema.
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