top of page

O Último Azul - Gabriel Mascaro mostra que não há idade para reaprender a existir

  • Foto do escritor: Marcos Silva
    Marcos Silva
  • há 2 minutos
  • 3 min de leitura

A convite da Primeiro Plano, assistimos com exclusividade ao esperado O Último Azul, marcado para estrear nos cinemas brasileiros no dia 28 de agosto de 2025. O hype por trás do filme aumentou ao entrar na lista de pré-selecionados pela Academia Brasileira de Cinema a uma vaga no Oscar de Filme Internacional. Confira nossas impressões sobre o longa a seguir.

O Último Azul - Gabriel Mascaro mostra que não há idade para reaprender a existir

O futuro é para todos?

Tereza vive em uma cidade costeira industrializada na Amazônia. Aos 77 anos , ela recebe uma ordem oficial para mudar-se para uma colônia de idosos — um “descanso” forçado imposto pelo governo. 

O Último Azul - Gabriel Mascaro mostra que não há idade para reaprender a existir

Expulsa de sua própria rotina, Tereza rejeita de cara a ideia e decide perseguir um de seus maiores desejos: o de voar. Em busca dessa liberdade, ela embarca numa aventura pelos rios e afluentes da região, em uma viagem capaz de mudar completamente o curso de sua vida. 


Atuações

Para viver a protagonista, Denise Weinberg apostou certo em uma atuação que parece contida e introspectiva, mas que cuida de todo o coração do filme. Tereza, muitas vezes pura e inocente, mas com uma sabedoria gigantesca, pega emprestado de Denise um trabalho corporal cuidadoso e sutil. 

A mesma qualidade se enxerga em seus parceiros de aventura. Rodrigo Santoro reforça cria para o seu personagem, Cadu, uma interpretação que parece mais contida, mas que conta um remorso do passado que não precisa de muitas palavras para ser entendido. Cheio de nuances, ele explode em dramaticidade em um ponto chave do filme, mostrando mais uma vez a sua potência como ator.

O Último Azul - Gabriel Mascaro mostra que não há idade para reaprender a existir

Outro destaque vai para o trabalho da fabulosa Miriam Socarras, aqui interpretando Roberta, que divide parte da aventura com Tereza. Energética e cheia de vida, a atriz consegue uma química invejável entre as duas personagens. 


O curso do rio

Gabriel Mascaro reuniu forças criativas sólidas para construir sua história, e o mérito maior está em como ele conduz a direção e o roteiro. A narrativa tem um ritmo tão orgânico quanto os rios e afluentes da Amazônia, acompanhando de perto a jornada dos personagens. O descaso sofrido pelos idosos aparece de maneira sutil, quase sempre nas entrelinhas, revelando um tema delicado que muitas vezes é esquecido. Ao lado de Tereza durante os noventa minutos de filme, o espectador percebe a dureza e também os desejos de uma vida que pode ser frágil, mas continua repleta de vontades e sonhos.

O Último Azul - Gabriel Mascaro mostra que não há idade para reaprender a existir

Do ponto de vista estético, tudo em O Último Azul se encaixa com uma elegância rara. A direção de arte se aproveita das paisagens naturais para criar cenas vibrantes que contrastam com os obstáculos da protagonista. Em momentos-chave, efeitos visuais discretos mas precisos reforçam a atmosfera, enquanto a fotografia alterna entre registros realistas da natureza — chuva, vento, sol — e instantes de fantasia iluminados por cores de néon, em um efeito quase hipnótico.


A trilha sonora de Memo Guerra, em seu segundo trabalho no cinema, merece destaque: trompetes e saxofones compõem uma música que ora é lúdica, ora sinfônica, sempre compassada e emocional, dando ritmo e respiro às aventuras de Tereza.

Seu lugar no céu ta garantido

Com a repercussão positiva e o apelo de Ainda Estou Aqui, o cinema nacional ganhou novos holofotes. O Último Azul, vencedor do Urso de Prata no Festival de Berlim, é mais um exemplo da excelência das artes visuais brasileiras.


O filme mexe com um instinto primitivo do ser humano: o de explorar mais de si mesmo, a natureza ao seu redor e, acima de tudo, o desejo quase desesperado de existir — de fazer valer a vida, seja qual for a idade. Obsoleta se torna a vida quando se fica mais velho. Pelo menos é esse destino que nós, como humanos, aprendemos a reconhecer. Mas, o que acontece quando, ao chegar lá, os sonhos ainda estão vivos?

O Último Azul - Gabriel Mascaro mostra que não há idade para reaprender a existir

Tereza é uma rebelde por se permitir querer mais. Reaprende a viver, a lutar pela liberdade de ser, e nos leva junto: cabelos prateados ao vento, navegando às margens de um rio em uma surpreendente e autêntica jornada. Não dá vontade de partir no final. Queremos permanecer com ela, como quem se recusa a acordar de um sonho raro.


No entanto, toda viagem precisa ter um fim. E é nesse silêncio devastador que O Último Azul ecoa — lembrando que a vontade de ir além nunca envelhece.



©2019 por pippoca.

bottom of page