Muito Esforçado do Prime Video é tão horrivelmente boa que parece ilegal
- Marcos Silva
- há 23 horas
- 4 min de leitura
A vida universitária norte americana é algo muito caótico se levarmos em consideração o que as séries nos mostram. Assistimos a Overcompensating, ou Muito Esforçado, que chegou ao Prime Video no começo de maio de 2025 e se tornou uma das séries mais populares do catálogo. Desde que estreou, não saiu do top 10! Confira a seguir as nossas impressões.

Tem muita coisa em jogo
Benny é um jogador de futebol americano que acabou de entrar na universidade. Recém chegado, ele tem dificuldades para aceitar sua própria sexualidade e costuma se esforçar ao máximo para esconder sua verdadeira personalidade. É aí que entra Carmen, uma garota que também está se entendendo e que se torna uma amiga. Do caos das festas, nas descobertas e nas confusões da vida universitária, Benny conhece Miles, e algo desperta. Um sentimento que ele vinha tentando esconder até de si mesmo.

Pra manter a pose hétero, Benny inventa histórias sobre sua nova amiga Carmen, se força em situações desconfortáveis e até entra numa sociedade secreta só para garotos, tudo pra parecer alguém que ele simplesmente não é. Mas até quando ele vai conseguir sustentar toda essa farsa?
Até que é atemporal
Depois que uma onda cringe abrupta dos primeiros episódios passa, dolorosamente, a série encontra o seu ritmo com o passar dos episódios. Ao apostar na superficialidade das questões de um jovem universitário em se encaixar em algum grupo, ser popular e construir uma reputação, Benito Skinner, o criador, deixa quase literal o texto de seu roteiro.
Um detalhe curioso é como a série cria uma ambientação quase fora do tempo. A trilha sonora remete a meados de 2013, os personagens fazem desafios "por uma boa causa", usam Facebook para marcar fotos da festa da noite anterior... e ao mesmo tempo, estão gravando dancinhas no Tik Tok. É como se todos os sinais de juventude digital das últimas duas décadas estivessem existindo ao mesmo tempo.

O roteiro, assim como o protagonista, parece ir se encontrando ao longo dos episódios. Apesar disso, atravessamos cenas forçadas, diálogos constrangedores e momentos que só existem pra mover a trama. Porém, lá pro final, o tom fica mais irônico, o ritmo melhora e a série finalmente parece saber o que está dizendo.
Do TikTok para Hollywood
O elenco conseguiu criar uma sinergia interessante ao longo da temporada. Destaque para Wally Baram, que em seu primeiro papel como atriz consegue incorporar toda a ingenuidade e confusão de Carmen; a hilária Holmes (também vista em Hacks) interpretando a divertida Hailee; e para Adam DiMarco, totalmente à vontade interpretando o irritante, mas até que charmoso, Peter. Já o astro do show, Benito Skinner, aproveitou toda a sua experiência como criador de conteúdo no TikTok para refinar sua veia cômica, principalmente na comédia física. Na sua estreia na TV, ele brilha e exalta carisma.

Entre as participações especiais, a série ainda nos presenteia com Megan Fox como uma espécie de mentora espiritual, a Charli XCX fazendo uma versão popstar (e mais debochada) de si mesma, e uma cena hilária que os amigos Bowen Yang e Matt Rogers — que parece saída diretamente de uma esquete do SNL — exageram até os limites nos estereótipos de um relacionamento não monogâmico, que parece estar funcionando, até certo ponto.
Esforçado demais e até meio brat
A trilha sonora da série, comandada pela própria Charli XCX, mistura sucessos pessoais da cantora com hits icônicos do começo da década passada, como “Super Bass”, da Nicki Minaj, e “Lucky”, da Britney Spears. É uma seleção que acerta na nostalgia e ambienta perfeitamente esse tempo-espaço meio indefinido da série. Um dos momentos mais fofos é embalado por “Claws”, da própria Charli, que toca em uma cena de reconciliação entre Benny e Carmen.
Agora, um pequeno desvio — mas que vai fazer sentido. Vamos de crítica musical dentro da crítica da série. Charli atualmente está encerrando sua era brat, marcada por um visual propositalmente feio (um verde limão + fonte horrorosa) que, na verdade, é uma crítica bem articulada ao consumismo e à estética plastificada do pop. Ironicamente, brat virou sua era mais bem-sucedida em números: a artista indie agora reina nos charts.

Ao escrever esse texto, veja que a capa do álbum já mudou: o título foi rabiscado, e o verde chamativo começa a ceder espaço para um marrom enferrujado. É a artista dizendo que a tendência foi tão explorada que começou a apodrecer. É proposital, irônico e autoconsciente. Assim é também com Overcompensating, que sabe que poderia parecer datada em tempos de Heartstopper e Sex Education, mas escolhe contar uma história que precisava ser contada. Afinal, se esconder no armário pode parecer coisa do passado, mas ainda é a realidade de muita gente. E Charli, com sua trilha, está ali para lembrar que o pop, assim como a identidade, também é um espaço de contradição.
Considerações Finais
Overcompensating exige que você deixe o seu eu crítico de lado um pouco para um bom aproveitamento. Erros de continuidade, um roteiro constrangedor e as atuações meio bobas estão ali — não só nos primeiros episódios, mas ao longo de toda essa primeira temporada. Com um pouco de paciência e boa vontade, essa espécie de American Pie gay se torna mais palatável, revelando suas intenções por trás do exagero.

Para uma possível segunda temporada, fica o apelo: que Benito pese um pouco menos a mão na estética hétero-masculina. A gente entendeu a proposta de encher o elenco de Kens, mas agora queremos mais siglas, mais nuanças queer, mais profundidade. O armário já está aberto — bora explorar o que tem lá dentro.