Level Up - evolução das adaptações live-action de videogames
- Silas Castro
- há 10 minutos
- 5 min de leitura
Falar sobre adaptações live-action de videogames, ou seja, com atores reais em vez de apenas animações 2D ou 3D, já foi, por muito tempo, um tema delicado para fãs de jogos e de cinema. Felizmente, esse cenário vem melhorando nos últimos anos. O objetivo deste artigo é apresentar uma linha do tempo das principais adaptações de jogos de videogame, destacando as mudanças mais relevantes que ocorreram ao longo de quase quatro décadas.
Anos 90: um começo meio “Trash”
Os anos 90 abriram as portas de Hollywood para filmes baseados nos jogos de sucesso da época, mas esse início estava longe de ser promissor. As principais adaptações vieram de jogos de fliperama que dominavam o período: Super Mario Bros., Double Dragon, Street Fighter e uma duologia de Mortal Kombat.
As adaptações dessa época não são nem as mais fiéis aos jogos, muito menos algo que valha a pena assistir atualmente, tanto por se tratar de um conceito ainda novo para os estúdios da época, quanto pela falta de tecnologia e pelos orçamentos baixos. Ainda assim, algumas dessas produções são consideradas “cult classics” hoje em dia.
Nenhum deles teve bom desempenho entre os críticos. O segundo filme de Mortal Kombat, por exemplo, possui apenas 4% no Tomatômetro do Rotten Tomatoes. Já o filme do Mario provocaria pesadelos nas crianças que assistiram sua animação de 2023. Nem mesmo a presença de Jean-Claude Van Damme conseguiu salvar o filme de Street Fighter, afinal, sabemos que o verdadeiro protagonista dos jogos é Ryu, não Guile.

Anos 2000: adaptação só no nome
Na virada do milênio, os videogames conquistaram de vez as casas dos gamers, tornando-se um hobby ainda mais popular graças à popularização dos consoles. Com isso, os jogos passaram a apresentar histórias mais ricas e elaboradas, algo que, em teoria, deveria facilitar sua adaptação para o cinema. No entanto, a realidade foi diferente.
É inegável que os dois filmes de Tomb Raider, com Angelina Jolie no papel de Lara Croft, marcaram uma geração de gamers. Houve também o filme de Doom, com Karl Urban e The Rock, além das adaptações de dois clássicos do terror: Silent Hill e Resident Evil. Apesar dos nomes de peso na atuação e nos jogos escolhidos, todos sofriam do mesmo problema: enredos fraquíssimos, sem capturar a essência dos jogos que estavam adaptando. O resultado foi filmes frequentemente tediosos e superficiais, não conseguindo agradar nem aos fãs, nem aos críticos.
O pior exemplo talvez seja a própria franquia de seis (sim, SEIS) filmes do Resident Evil, que, embora tenha feito sucesso com cenas de ação e efeitos especiais, distorceu completamente a história dos jogos. A protagonista dos filmes, Alice (interpretada por Milla Jovovich), sequer existe nos jogos, e as continuações se afastaram cada vez mais da trama original, sendo quase como um efeito “Velozes e Furiosos” versão zombie.

Anos 2010: muitos erros e alguns acertos
A partir de 2010, o assunto de adaptar jogos para o cinema já havia se tornado um tabu entre os fãs. Claro, a ideia de ver seu jogo favorito adaptado nas telonas era atraente, ainda mais com o aumento dos investimentos dos estúdios, melhores efeitos especiais e até grandes nomes em papéis principais, mas, diante do histórico, era melhor não criar muitas expectativas.
Neste período ainda lançavam adaptações “desalmadas” como Hitman, Prince of Persia, Need for Speed, Assassin's Creed e Rampage (que marca a segunda aparição do The Rock em filmes ruins de videogame), onde pegavam apenas os nomes dos jogos com seus conceitos básicos e jogaram em um liquidificador junto com clichês genéricos de filmes de ação e saía o famoso “mais do mesmo”.
Porém nem tudo estava perdido, já que 3 filmes desta década tentaram algo inimaginável: ser mais fiel ao jogo que estavam adaptando!! Uma ideia realmente revolucionária, eu sei. Estes filmes foram:
Warcraft, que mesmo não agradando a todos, foi muito bem avaliado pelos seus fãs graças aos visuais e narrativa do universo do jogo;
Tomb Raider, na qual o filme é baseado no reboot dos games e em ambos os casos tentam apresentar a Lara Croft de forma mais realista e humanizada, sendo mais uma sobrevivente do que uma musa nerd;
E por último, sendo esta minha adaptação favorita, Detetive Pikachu, que trouxe toda a magia do mundo Pokémon para uma trama investigativa com um Pikachu dublado pelo Ryan Reynolds e conseguiu agradar os fãs dos jogos, o público geral até os críticos, alcançando incríveis 68% no Tomatômetro, que pode não parecer muito, mas ele foi a primeira adaptação a conseguir uma nota tão alta.

Anos 2020: poder do ouriço azul!
Mesmo com certa cautela, é válido dizer que o cenário das adaptações está melhor atualmente. Ainda há fracassos, como Until Dawn, que tentou inventar moda em vez de usar a excelente história original, ou Monster Hunter, que prova que o raio pode, sim, cair duas vezes no mesmo lugar, onde mais uma vez temos Milla Jovovich como protagonista de uma adaptação com enredo fraco, que não agradou aos fãs.
Há alguns filmes medianos que, mesmo longe de serem perfeitos, são mais assistíveis e capturam melhor a essência dos jogos quando são comparados com as adaptações dos anos 2000. Uncharted, por exemplo, mistura ação e humor em meio a seus mistérios; o reboot de Mortal Kombat traz mais violência, mas comete o erro de criar um personagem que não existe nos jogos para conduzir a narrativa; e até Five Nights at Freddy’s, que apesar da violência suavizada para atrair o público mais jovem, conseguiu agradar boa parte dos fãs.
Porém, sendo bem sincero, acho que não existe uma pessoa no mundo inteiro que imaginaria que o Sonic seria o grande nome dos filmes de videogames em pleno 2020, ainda mais depois do trailer original do primeiro filme que apresentou uma versão bizarra do personagem e que, graças à grande revolta popular, o estúdio corrigiu essa gafe antes do filme lançar.
Os três filmes do mascote da Sega foram sucesso de bilheteria, sendo fieis a aspectos importantes dos jogos, tendo um enredo leve e divertido e que foi introduzindo gradualmente mais personagens dos games aos filmes, mas sejamos sinceros, quem rouba a cena nos filmes é o Doutor Robotnik, interpretado pelo genial Jim Carrey e que ajudou muito a garantir o sucesso do ouriço azul nas telonas.

Sobre este ano, já tivemos um astronômico sucesso do filme do Minecraft nas bilheterias e agradou bastante seu público alvo, mesmo não sendo lá a maior obra prima cinematográfica e ainda teremos mais as continuações de Mortal Kombat em Outubro e de Five Nights at Freddy’s em dezembro.
Vale destacar também que algumas adaptações migraram das telonas para os streamings, assumindo o formato de séries, como The Last of Us, Fallout, Twisted Metal e Halo. Isso as tornou mais acessíveis, já que praticamente todo mundo assina pelo menos uma dessas grandes plataformas. Além disso, as séries andam mais populares que os filmes e conseguem desenvolver tramas mais detalhadas e fiéis aos jogos, por não estarem presas à limitação de tempo de uma produção cinematográfica. Ainda assim, nem tudo dá certo: a série de Resident Evil, por exemplo, foi um fracasso, mostrando que algumas coisas não valem ser ressuscitadas.

Comments