A convite da Sinny Comunicação, tivemos a oportunidade de assistir com exclusividade ao longa japonês Família, dirigido por Izuru Narushima. O longa será lançado nos cinemas brasileiros no dia 15 de agosto. Confira nossas impressões sobre a trama.
A história e os personagens
Somos apresentados a Seiji Kamiya, um ceramista solitário que vê sua vida mudar quando seu filho, Manabu, decide retornar ao Japão para trabalhar ao seu lado. Enquanto Seiji inicialmente vê esse retorno com certa apreensão, Nadia, a companheira de Manabu, retorna com o amado ao seu país de origem na esperança de uma nova vida e, quem sabe, de uma nova família.
No outro lado da história, conhecemos Marcos e Erika, um jovem casal parte de uma comunidade de imigrantes brasileiros no Japão, que chegaram ao país na juventude com a promessa de um "sonho japonês" que nunca se concretizou. eles são perseguidos por uma máfia japonesa liderada por Kaito Enomoto, que guarda rancor de brasileiros por causa de um passado trágico. Durante uma fuga desesperada, Marcos é ferido e acaba sendo salvo por Seiji e Manabu.
O laço afetivo de Seiji e Marcos começa a se fortalecer quando Manabu, a pedido do pai, retorna à Argélia para trabalhar em uma empresa. O artesão tem em seu quintal uma fornalha que precisa ser vigiada por três dias ininterruptos, e acaba aceitando a ajuda de Marcos e Erika para manter a chama acesa como forma de gratidão por ter salvado Marcos da máfia, unindo assim os dois núcleos em um só.
O já consagrado Koji Yakusho, que deu vida ao otimista Hirayama em Dias Perfeitos, aqui atua com uma presença contida e tímida, mas carrega uma gama de emoções intensas, mesmo que o roteiro entregue pouco a ele. Yoshizawa Ryo interpreta Manabu, um jovem determinado a seguir os passos do pai, e sua química com Malyka, que vive Nadia, funciona bem, embora o filme não explora tanto o papel dela.
No núcleo brasileiro, no entanto, as atuações de Lucas Sagae como Marcos e Fadile Waked como Erika são um pouco mais contidas, algo esperado dado que ambos estão estreando no cinema. Por fim, temos a presença de Miyavi para o vilão Kaito, que é uma presença ameaçadora, mas que tem só isso no seu desenvolvimento.
Nem tudo são flores no Japão
Apesar das boas intenções do filme em tentar mesclar culturas e trazer alguma emoção, ele tropeça em diversos aspectos. Um dos maiores problemas é o excesso de diálogos expositivos, que tornam a trama previsível e pouco envolvente.
A representação brasileira no filme é outro ponto que merece ser colocado em pauta. As cenas envolvendo a cultura brasileira são caricatas e desconexas, coisas como um samba no pé sem ritmo e uma linguiça de churrasco cortada na tesoura, só fazem estranhar do que encantar. Os diálogos em português soam artificiais e parecem ter sido adaptados sem cuidado nenhum, quase como se tivessem saído direto do Google Tradutor.
A trama que envolve a criminalidade, as gangues e máfias japonesas que oprimem personagens marginalizados é superficial e mal explorada. O líder da máfia, um jovem de cabelo azul, é retratado de forma unidimensional, com sua maldade sem uma motivação convincente, além de um passado trágico.
Essa superficialidade se reflete também nas cenas de violência, que são mal coreografadas e repetitivas, mais parecendo um "violence porn" amador do que um drama impactante. A brutalidade forçada e teatral das agressões torna o núcleo brasileiro do filme um ponto fraco, lembrando uma websérie dos anos 2010 ou um projeto de faculdade mal executado.
Embora o filme tenha momentos de beleza, como uma cena simples entre Nadia, Seiji e Manabu ao som de uma canção nostálgica ao pôr do sol, essas raras exceções não conseguem salvar o conjunto da obra. A boa intenção do filme não é suficiente para compensar seus diálogos forçados, narrativa arrastada e representação cultural falha, resultando em uma experiência muito abaixo do esperado.
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