Essa semana fomos ao Cineplex Novo Batel em Curitiba para assistir o retorno do diretor Francis Ford Coppola às salas de cinema. O lendário diretor responsável por grandes obras como O Poderoso Chefão I e II, Apocalypse Now, Drácula de Bram Stoker, entre outros, volta depois de mais de 10 anos em uma produção conturbadíssima. Mas enfim, vem entender melhor sobre tudo isso e acompanhar o que achamos do longa!
O contexto
O diretor Francis Ford Coppola (sim, o pai da Sofia Coppola), veio ao Brasil para o lançamento do seu novo filme intitulado “Megalópolis”, com uma viagem emocionante e repleta de momentos históricos para os fãs brasileiros, mas não se engane, a trajetória desse filme não foi nem um pouco tranquila, muito pelo contrário, ouso dizer que talvez a história de produção desse filme é mais interessante do que o próprio.
Pessoas próximas do diretor, dizem que esse filme vem sendo pensado por Francis à mais de 40 anos, quando o diretor terminava as filmagens de Apocalypse Now (1979), e que o mesmo ficou engavetado por décadas até que o diretor tivesse o financiamento para tentar fazer seu projeto acontecer. Essa falta de investimento se deve ao fato de problemas com atraso da produção do próprio Apocalypse Now, que causou um desconforto nos investidores em relação às produções de Coppola.
Foi quando no ano 2000, depois de uma crise financeira, Coppola finalmente conseguiu um financiamento para executar o seu filme. E olha, acho que aqui vale trazer um contexto sobre o enredo do filme (calma, vai fazer sentido).
Megalópolis se passa em uma Nova York atual, baseada no antigo Império Romano, com a cidade sendo chamada de “Nova Roma”. Uma cidade repleta de conflitos políticos, que depois de uma grande catástrofe, tenta se reerguer, criando uma divisão política local e uma grande disputa de poder. Pois bem, com esse breve contexto, posso continuar. Bom, não vou precisar dizer muito, já que o ano de 2001 em Nova York não foi realmente o melhor ano, se é que você me entende. Após o ataque do 11 de Setembro ao World Trade Center, Coppola decidiu parar seu projeto por tempo indeterminado, trazendo-nos, até 2022, quando finalmente o diretor pode tirar seu filme do papel, mas não de uma forma muito simples. Um filme de mais de 120 milhões de dólares, financiado com o dinheiro do próprio bolso. Pois o cinema como o diretor conhecia, vem sumindo cada vez mais, os financiamentos a filmes cult ficam cada vez mais escassos. Mas é claro que isso não seria motivo para que o diretor desistisse do seu projeto de quase meio século. Dito isso tudo, vamos ao que achamos do filme.
O enredo
Pois bem, o enredo não foge muito do que eu já lhe disse mais cedo: Vemos uma Nova Roma, sendo disputada pelo domínio de duas personalidades: César (Adam Driver), é um arquiteto excêntrico e sonhador, criador de um elemento que promete modificar a forma como construímos e mantemos nossas construções. Do outro lado temos Cícero (Giancarlo Esposito), o atual governante da grande cidade, que foca muito mais em manter as políticas da forma que estão, mantendo a “ordem das coisas” atingindo sempre a ideia de que César é um sonhador maluco.
O roteiro
O roteiro, assim como a montagem, parecem ser esse aglomerado de ideias que foram se acumulando na mente de Coppola durante esses 40 anos de espera para a execução. Isso resulta em um filme com uma intenção grandiosa, uma montagem retilínea e uma execução que muitas vezes trata a audiência como estúpida.
Por muitas vezes o diretor trata de assuntos extremamente interessantes, mas acaba por deixar esse assunto de lado, abandonando ideias boas para o esquecimento para em seguida andar pela superfície de outra ideia, também boa, para então seguir com esse ciclo vicioso e cansativo que foi toda a obra. Não me leve a mal, o filme tem muita coisa boa a ser dita, mas a história em si não é nem de longe uma dessas coisas na lista.
A direção de arte e a fotografia
Isso precisa ser dito: Cada frame presente nesse filme, pode ser usado facilmente como um belo wallpaper, pois sem sombra de dúvidas toda a direção de arte do longa é uma das grandes estrelas desse espetáculo cheio de fogos e distrações.
Cada ângulo, elemento cenográfico, efeito prático e cada figurino foi profundamente pensado para contar uma fábula de uma forma completamente onírica e subjetiva, contando uma história complexa e confusa mas com uma roupagem linda e de fazer brilhar os olhos.
O figurino da premiadíssima Milena Canonero, que havia ganho sua última estatueta por Grand Hotel Budapeste, é um dos elementos mais significativos para a contagem dessa história, trabalhando toda a preciosidade das vestimentas romanas junto com a moda moderna de forma a realmente criar todo um ambiente de contexto com muita facilidade.
O elenco
Aqui temos uma das grandes maldições de Hollywood em ação, aquela em que dizem que “quanto maior a quantia de nomes de peso em uma mesma produção, maior a chance do filme ser terrível”. Nomes como os já citados Adam Driver e Giancarlo Esposito, além de Nathalie Emannuel, que interpreta Julia, a filha do prefeito Cícero, Shia LeBouf interpretando Clodio, o primo opositor de Cesar, Jon Voight como Crassus, o tio rico de Cesar, Audrey Plaza, que interpreta Wow, uma repórter gananciosa, Lawrence Fishburne, que além de narrador de todo o conto, interpreta o assessor e motorista de Cesar, sem falar de Dustin Hoffman que dá vida a Nush, um dos políticos próximos a Cícero.Uma bagunça de grandes nomes, né? No meio disso tudo, devo destacar a atuação de Adam Driver, que leva com muita naturalidade o papel que lhe é dado, apesar de caricato, encaixa-se com facilidade nesse universo criado por Coppola.
Nosso veredito
Bom, o que se leva desse filme, é que a atitude de Coppola é louvável, investir do próprio dinheiro para tentar manter o cinema como ele achava que deveria ser, feito com paixão e intenção, mas entendemos que nada disso é suficiente, se você não foca em contar uma boa história. Megalópolis é autêntico, corajoso, confuso e pretensioso. Traz excelentes temas, para no fim, deixar todos eles de lado e não terminar uma única filosofia ou ideia colocada em tela de forma concreta. Um triste fim para o grande sonho de Coppola.
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