Dollhouse é um terror pavoroso, no pior sentido
- Marcos Silva

- há 1 minuto
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Este ano trouxe uma boa dose de filmes de terror – alguns excelentes, outros duvidáveis. Assistimos com exclusividade a Dollhouse, o longa japonês que estreia no dia 6 de novembro no Brasil. A seguir, nossas impressões.
A história
Kae enfrenta um luto devastador após perder sua filha pequena, Mei, em um acidente doméstico. Um dia, ela encontra uma boneca incrivelmente realista em uma feira de antiguidades. Kae decide adotar o estranho brinquedo como um amparo no seu momento mais vulnerável.

A esperança volta à casa da família quando Kae descobre estar grávida de sua segunda filha, Mai. Com isso, a boneca acaba sendo esquecida. A partir daí, uma série de acontecimentos fora do normal começam a surgir na casa da jovem, fazendo-a acreditar que a boneca tem vida própria.
O pânico se instala, e Kae logo decide se livrar da boneca. O problema é que, quanto mais ela tenta, mais a boneca dá um jeito de voltar. E por muitas vezes, deixando rastros cada vez mais malignos a cada volta.
Boneca-terapia?
A primeira meia hora do filme é muito bem construída. Toda a sequência da história devastadora da perda da filha, as poucas cores que restam na casa e o calor retornando com a chegada da boneca faz o público se engajar e querer saber mais.
Interessante esta tradução na fotografia com as cores escuras que vão dando espaço às mais quentes, enquanto a história se move para a superação do luto da mãe. E ele retorna ao sombrio quando as coisas se complicam com os “sentimentos de ciúmes” da boneca com a filha pequena.

Em termos de atuação, a premiada atriz Masami Nagasawa leva o filme às costas. Ela é o motor emocional do filme que faz o público seguir até o fim. Masami passa junto de Kae por todas as fases do luto e tira de letra as nuances que vão da alegria ao desespero. Já o seu companheiro, Koji Seto, acaba não conseguindo acompanhar o ritmo da protagonista, infelizmente.
Maternidade é…complicado
Filmes de terror com bonecos macabros geralmente precisam escolher um lado para funcionar. Ou eles vão para um lado mais sombrio, ou acabam indo para uma caricatura sem se levar à sério. Alguns até conseguem um bom meio do caminho.
O grande problema de Dollhouse foi não conseguir chegar a lugar algum. Ao contrário, ele se leva como uma trama seríssima. Por exemplo, a sequência onde os personagens estão em perigo, e vão procurar ajuda em um vídeo na internet estrelado por caçadores de mitos. Com o tom de seriedade definido, tudo parece artificial e piegas até demais.

O roteiro também se torna confuso e acaba levando o espectador para vários lugares diferentes, sem nem mesmo conseguir encontrar um propósito para isso. A história de origem da boneca guarda um plot twist que é previsível e leva um grande tempo para ser revelada. Tempo esse que já fez o filme perder o interesse. Além de ter furos no que diz respeito aos poderes sobrenaturais da boneca. Às vezes estática, outras vezes demoníaca. Depende do que o roteiro precisa na hora.
O curioso é que nem os próprios roteiristas tinham ideia de como se livrar da boneca de fato. É um filme que desenha camadas de terror muito bem no seu início, mas que com o decorrer se perde. A boneca passa por ocultistas, monges, policiais… e a essa altura, o que você quer mesmo não é o fim dela — é o fim do filme. Mas ele demora a chegar.
Lendas nunca morrem
Muitas vezes, os filmes de terror querem trazer temas da atualidade, ou até resgatar lendas e mitos de uma determinada cultura para dar um olhar mais aterrorizante, mais sobrenatural. É um gênero rico que se aproveita desse modelo há tempos.

Com Dollhouse, essa intenção ficou só na ideia. Ele te coloca direto na zona do tédio no momento em que deveria mais se intensificar. Todo o medo foi podado, e o que sobra é uma trama que não sabe para onde ir. Nessas horas, o bom é deixar as lendas enterradas mesmo. É melhor não mexer em maldição da qual não consegue lidar.






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