Essa semana tivemos a oportunidade de assistir ao longa Emilia Pérez, o filme que é concorrente direto de Ainda Estou Aqui de Walter Salles e que chega ao Brasil no dia 6 de fevereiro, está em sua campanha para o Oscar, onde recebeu 13 indicações, incluindo as categorias de Melhor Filme, Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Atriz. O longa, que vem ganhando força, também recebeu muitas críticas e está envolto em polêmicas da mídia nos últimos dias, é dirigido pelo francês Jacques Audiard e protagonizado por Zoë Saldaña, Karla Sofia Gascón e Selena Gomez. Então bora conferir o que achamos?

Primeiro, o contexto
Bom, se você está por fora de todos os acontecimentos e polêmicas que envolvem este filme, muito provavelmente está isolado do mundo ou vive em uma bolha, mas pode ficar tranquilo(a), é pra isso que você tem a gente, não é mesmo? Então vou contar pra você tudo o que vem acontecendo na campanha mais polêmica do Oscar dos últimos anos. O longa, que é recheado de violência, tráfico humano, chacinas, drogas e muito clichê, trata uma pauta extremamente importante, como a redesignação de gênero, faz isso dentro de outros inúmeros assuntos importantes, mas executa isso de uma forma terrível.
Vamos às polêmicas
Emilia Pérez, retrata a violência, a criminalidade e a cultura mexicana de forma tão eurocêntrica, que é difícil não sofrer inúmeras críticas. Começando pela ausência de atrizes latinas e o pronunciamento do diretor para a SAG - Foundation, dizendo que “As atrizes escolhidas eram as melhores para os papéis”. Com ausência de atrizes mexicanas, um diretor francês, duas estrelas americanas, uma espanhola e nem ao menos uma cena gravada no México, a campanha do longa para a categoria de “Melhor filme Internacional” foi alvo severo de críticas.Se por um lado os mexicanos se sentiram ofendidos pela representação mostrada em Emilia Pérez, por outro lado, a população trans acusou o longa de tratar de forma caricata e insensível a experiência trans, reforçando estereótipos culturais prejudiciais à causa.

O enredo
Rita Mora Castro (Zoë Saldaña) é uma advogada, que apesar de ser muito boa, trabalha em um escritório que atende os clientes mais crápulas e odiosos já existentes. Em um certo momento ela é contatada por Manitas (Karla Sofia Gascón), o líder de um cartel mexicano, que revela ter sempre se identificado como mulher e sempre teve o desejo de tornar-se fisicamente mulher, vivendo sua vida longe do que construiu para si. Assim, ele contrata a advogada, para que ela encontre um cirurgião que faça isso de forma correta e sigilosa, pois iria sumir e viver uma outra vida, longe da alcunha do narcotraficante “Manitas”, deixando para trás sua mulher e duas crianças.
Mas e a questão técnica?
Bom, quando se trata de fotografia e direção de cenas, Emilia Pérez se apresenta em alto nível, com boa construção de cena, jogos de câmera espertos e uma edição de altíssima qualidade, aqui a parte técnica mostra a que veio. Quanto à parte musical do filme, tenho inúmeras críticas e ressalvas. Com coreografias completamente esquecíveis e músicas terríveis, com melodias fracas e letras que reforçam muitos estereótipos, o musical presente é vergonhoso. Os momentos musicais em situações chave do filme, transformam momentos que deveriam ser de crítica, tensão ou violência, em uma verdadeira piada, trazendo um desconforto que não conversa com o assunto profundo que está sendo tratado em cena.

“As atrizes escolhidas eram as melhores para os papéis”
Disse Jacques Audiard. Pois vamos falar de atuação. Quando falamos da interpretação, talvez seja melhor falar somente sobre Zoë Saldaña e Karla Sofia Gascón, pois Zoë Saldaña entrega uma boa advogada no primeiro ato, atuando com um espanhol convincente e Karla Sofia Gascón atua bem, tanto representando Manitas, seu lado mais obscuro e cruel, como Emilia Pérez, uma mulher benfeitora e focada em se aproximar da família. Nas partes musicais, nenhuma das atuações é minimamente aceitável, na verdade é constrangedor, e olha, não digo isso por ser musical, mas em certos momentos parece aquelas atuações de instagram com roteiros estranhos, que são feitos pra te deixar confuso, desconfortável e com vergonha alheia.
Mas e Selena Gomez? Ela é de origem mexicana, não é? Deve ter um bom espanhol e uma boa atuação, não é? Não é?Aiai, que nervoso de falar sobre essa atuação pífia, constrangedora, desrespeitosa e com um espanhol completamente incompreensível. Depois de ver a atuação de Selena Gomez, ficou clara que a frase de Jacques Audiard é simples e puramente uma desculpa por não ter nem ao menos procurado direito atrizes mexicanas melhores para atuar em seu filme. Sinceramente, em qualquer esquina de Oaxaca, dava pra encontrar alguém melhor que Selena para o papel.

Mas e o Oscar?
Agora resta esperar. A campanha de Emilia Pérez vinha forte desde antes do Globo de Ouro, com o filme saindo vencedor em 4 categorias, incluindo Melhor Filme em Língua Estrangeira e Melhor Filme em Comédia ou Musical. Mas nos últimos dias, o polêmico longa vem sofrendo fortes críticas de ambas as comunidades que são assunto central da obra. E é claro que isso, unido com polêmicas envolvendo a atriz Karla Sofia Gascón, que incluem ataques diretos à nossa queridinha Fernanda Torres, pode vir a enfraquecer a campanha.Outro ponto que pode enfraquecer a campanha, é o momento atual dos Estados Unidos, com toda a questão de Trump com os imigrantes, estes que são majoritariamente latinos. O filme não ter atrizes mexicanas nos papéis principais, não ter um diretor mexicano e nem ser gravado no México, pode sim ser um agravante na caminhada até a premiação.
Nosso veredito
Emilia Pérez é a prova de que um tema com grande potencial pode ser desperdiçado por inúmeras escolhas erradas feitas durante o processo. Esse filme foi um erro e eu considero um surto coletivo o fato da academia ter dado 13 indicações para um filme com tantos problemas. A população transgênera e o povo mexicano mereciam uma representação mais fidedigna e respeitosa do que o que foi entregue por Emilia Pérez, é uma pena.
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