Depois de 6 episódios, Falcão e o Soldado Invernal chegou ao seu fim. Novamente vimos a série servir como uma forma dos personagens assumirem novos mantos, assim como ocorreu em WandaVision. A série, de forma geral, aborda temas relevantes, mas a execução pecou um pouco. Se quiser entender mais, confira a seguir a nossa crítica, que trará, obviamente, muitos spoilers da série.
Seu ponto forte é o legado do Capitão América
Para a Marvel, discutir o legado do Capitão América seria um grande desafio, ainda mais depois do desfecho do arco de Steve Rogers (Chris Evans) em Vingadores - Ultimato. Quem pensou que Sam Wilson (Anthony Mackie) já teria assumido esse manto (no caso, o escudo) logo de cara, se decepcionou. Ao abrir mão dele, uma lacuna foi deixada, o que possibilitou ao governo escolher quem seria o novo Capitão. Foi nesse ponto em que o estúdio achou a oportunidade de discutir questões sociais importantíssimas.
Seria impossível a Marvel não trazer o debate sobre o racismo estrutural ao fazer essa passagem de bastão, mas aprofunda isso ao adaptar elementos da HQ “Captain America - Truth: Red, White & Black” e colocar a história de Isaiah Bradley (Carl Lumbly) como cânone no MCU. Bradley, um soldado preto do exército americano, foi o único sobrevivente de experimentos involuntários com o soro de supersoldado. Mesmo tendo resgatado seus companheiros de guerra em uma missão, foi preso e dado como morto pelo governo americano, enquanto era usado como cobaia em outros experimentos para que pudessem entender porque foi o único a sobreviver, nunca podendo assim, assumir o manto do Capitão América. Na série, sua função é mostrar ao Falcão que nunca o governo e a população nunca aceitaria uma pessoa preta como Capitão, o que se comprova ao designarem John Walker (Wyatt Russell) para substituir Steve Rodgers.
Outra questão social abordada na série são as motivações dos Apátridas, um grupo a favor de manter o relaxamento de fronteiras que o mundo atingiu nos 5 anos entre o estalo de Thanos e o blip (estalo do Homem de Ferro). Após o retorno dos dizimados por Thanos, os governos, com auxílio da ONU, criaram um programa que, teoricamente, auxiliaria socialmente os refugiados, mantendo-os em campos de refugiados. Mas na prática, isso não ocorria e os Apátridas eram os que proviam os mantimentos para esses grupos. Porém, a radicalização de sua líder, Karli Morgenthau (Erin Kellyman) e o uso do soro de supersoldado por seu grupo os colocaram como um grupo terrorista diante da opinião pública e dos governos.
Ao assumir o posto de Capitão América, Sam Wilson novamente se opõe ao governo, como fizera em Capitão América - Guerra Civil, e mostra que o escudo do Capitão representa mais valores do que a aparência em si. E isso só é reforçado com o discurso dado aos políticos apoiando a causa dos Apátridas, logo após eles terem sido feitos de reféns pelo mesmo grupo.
Série é pouco coesa
Se em WandaVision cada episódio tinha um estilo diferente, o que era justificável pela temática de homenagear as sitcoms ao longo das décadas, isso não funciona em Falcão e O Soldado Invernal. Essa mudança não era explícita, mas ficou claro que os episódios seguiram estilos diferentes de filmes de ação. Por exemplo, o 1º foi um episódio mais realista, mostrando a situação cotidiana das personagens após Vingadores - Ultimato, enquanto o 2º, por sua vez, seguiu o estilo de dupla policial e o 3º foi de espionagem. Ao invés de diluir esses estilos entre os episódios, ter cada um de um estilo deixou a série desconexa, sem uma identidade própria. Além disso, a série também buscou deixar explícito todos os temas que abordava, mesmo quanto eles já eram entendidos nas entrelinhas.
Os arcos dos outros personagens são fracos
Se todo o arco do Falcão foi o ponto forte da série, o mesmo não podemos dizer dos arcos do Bucky Barnes (Sebastian Stan), Sharon Carter (Emily VanCamp) e Barão Zemo (Daniel Bhrül). Bucky tem um arco de redenção, sempre buscando reverter os crimes que cometeu sobre o nome de Soldado Invernal e pouco acrescentou para a trama central da série. Já Sharon Carter assume o papel do Mercador do Poder, figura central de Madripoor e influente no mundo da criminalidade, mas cujas motivações não faziam sentido, como, por exemplo, pagar o dobro para Batroc (George St. Perre) matar Sam Wilson, mesmo com ele ajudando-a a receber o perdão do governo americano, o que se torna uma vantagem para ela como vimos ao final da série. Por fim, a presença de Barão Zemo pouco fez sentido na série, já que ele pouco influencia na trama e seu arco pode até ter sido consequência das ações da Condessa Valentina Allegra de Fontaine (Julia Louis-Dreyfus), como fica sugerido no último episódio da série.
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