O Agente Secreto é o thriller tropical afiado de Kleber Mendonça
- Marcos Silva

 - há 11 minutos
 - 3 min de leitura
 
Assistimos a um dos melhores filmes do ano! O Agente Secreto, de Kleber Mendonça, chega aos cinemas de todo Brasil no dia 6 de novembro. Vem que te contamos mais detalhes sobre o longa!
História
Brasil, 1977. Marcelo chega a Recife em busca de um recomeço para sua vida. A fim de fugir de um misterioso passado que insiste em persegui-lo, ele encontra a cidade tomada pelo caos em meio da semana de Carnaval.

Com o passar do tempo, Marcelo vai percebendo que a cidade que antes parecia acolhedora está cada vez mais longe e complicada de ser o seu refúgio para uma vida melhor.
Bem vindo ao Edifício Ofir
Sobre as atuações, elas são excepcionais. Dos companheiros de prédio até os oficiais da polícia, não há um ponto de divergência. Apenas pura coerência.
Wagner Moura tem uma sinergia impecável com o diretor que é visível em tela. Ele pega o texto para si como se fosse a ação mais natural do mundo. Um bom destaque no filme é a rápida, mas central, participação da Maria Fernanda Cândido como Elza, uma jornalista que age em segredo a fim de ajudar os perseguidos pelo regime da ditadura.

Outro destaque bem pontuado é a performance cativante de Tânia Maria como Sebastiana. A dona da pensão que acolhe os refugiados em Recife, é a alma do filme que joga de igual para igual com Wagner em praticamente todas as cenas. Tânia, de 78 anos, que começou sua carreira de atriz aos 72, é parte da irreverência e do charme cativante do filme em uma performance suprema.
Não sei o que tá acontecendo, mas tô amando
A história vai se desdobrando aos poucos, sem pressa. Apenas na segunda metade do filme é onde descobrimos de fato quem é o Marcelo e o que aconteceu com ele no passado. A narrativa é envolvente e interessante, com uma dose de ironia ácida conhecida do diretor. Ele nos conduz através de um afiado roteiro em uma história de identidade forte, criando momentos de tensão onde uma eminente e cega caçada se afunila cada vez mais.

Trilha, ambientação, cores saturadas e pulsantes, músicas que tocam no rádio, roupas, cenários, carros. Todos os elementos imergem o público direto aos anos 70. A harmonização deste ambiente fica por conta do excelente trabalho de direção.
É impressionante como Recife pulsa nas veias de Kleber, e o diretor tem uma capacidade de transpor a cidade para a tela de um jeito que o espectador se sente parte da cidade. É como conhecer Recife sem mesmo nunca ter visitado.
Em contraste, um ponto a desejar são os saltos temporais entre a história principal na década de 70 e as cenas nos dias de hoje. Com uma narrativa que se apresenta fluida, cortar esse embalo acaba fazendo ele perder um pouco do ritmo. Mas não é nada que arruine a experiência.
Mistura de Elementos
O Agente Secreto não é uma coisa só. O longa mistura elementos de fantasia, ficção científica, terror, camp, referências culturais únicas de Recife – isso tudo sem sair nem um pouco do tom mais tenso do thriller que é proposto. Uma mistura de bom gosto que dá muito certo.

Além de ser cômica e absurda, os elementos colocados no filme ainda servem como um apontamento social. A lenda da tal ‘perna cabeluda’, contada nos jornais, funciona como uma analogia inteligente e marrenta à memória curta da sociedade – que, naquela época e até hoje, parece esquecer o quão devastador foi o período da ditadura nesse país. No esquema de telefone sem fio, de cortes extraídos e cada vez mais podados, a visão se torna turva, e a memória é cada vez menos eficaz.
Mas um hit, Brasil?
O nome do filme, o pôster e o seu início mais devagar fazem levar a pensar que se trata de um filme de espionagem. Kléber brinca com nossas expectativas e entrega algo muito mais humano e simbólico. Ainda mais que isso – genuinamente brasileiro.

O Agente Secreto definitivamente entra para o hall de excelentes filmes nacionais, alguns dos quais lançados recentemente, que trazem o holofote para situações cotidianas onde tudo pode ser perdido aos poucos, inclusive a humanidade. Quem ainda vem guardando maus olhares para o cinema nacional, nunca esteve tão enganado.
Bom, agora só resta dizer: que venha o Oscar!





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