Arthur Ripka Barbosa
27 de nov de 20222 min
Ao estrear em 2018, Pantera Negra foi um estrondoso sucesso não só de bilheteria, mas também como de crítica, pois mostrou pela primeira vez que a Marvel estava disposta a abordar temas sociais e reais em seus filmes, sobretudo com a questão racial. Com o sucesso garantido, sua sequência era mais que questão de tempo, porém a morte de Chadwick Boseman, que interpretava o rei T’Challa e o Pantera Negra, adiou os planos do estúdio. Então, com o roteiro reescrito, Ryan Coogler utilizou do luto para escrever aquilo que é a produção mais madura que a Marvel já fez.
Pantera Negra - Wakanda Para Sempre não é uma história sobre o Pantera Negra, mas sim sobre Wakanda. Nela vemos como o país está lidando com a morte de T’Challa - solução encontrada para o personagem, já que a Marvel não iria substituir Boseman e nem revivê-lo digitalmente - e com a exposição das tecnologias para o resto do mundo. Na ambição de encontrar vibranium em outros lugares, os demais países acabam envolvendo o reino de Talokan e de seu rei, Namor (Tenoch Huerta), que se torna um rival de Wakanda com o desenrolar da história.
Logo na primeira cena do filme acompanhamos como Shuri (Letitia Wright) recebe a notícia da morte do seu irmão, T’Challa, e isso é posto intencionalmente aqui, porque quer deixar claro que o luto, não só por T’Challa, mas como sentimento é que irá conduzir toda a história. É por ele que vemos Shuri tendo que encontrar o equilíbrio entre a ciência e a tradição, as justificativas de Namor para seus atos, a reclusão de Nakia (Lupita Nyong’o) da sociedade wakandiana e até mesmo os questionamentos ao trono de Wakanda. E a forma como o roteiro trabalha esse sentimento, sempre pondo-o sutilmente em evidência é que faz com ele seja maduro e bonito.
Se no primeiro filme a questão racial foi o principal tema abordado, o segundo trouxe o colonialismo no seu cerne. Ao mudar a origem de Namor da grega para a mesoamericana, Coogler conseguiu aproximar os dois reinos e tornar ambos comuns à questão, já que Wakanda é um país africano nesse universo. O filme então sai da política interior de Wakanda, do debate da abertura de fronteiras, para a exterior, na qual eles se vêem obrigados a escolher entre ser aliado ou rivais de um país semelhante. E é por isso que o filme se trata mais de Wakanda do que do Pantera Negra, sendo a figura do herói uma consequência para aquele que governa o país.
Fazendo um balanço entre pontos positivos e negativos, o filme tem muitos mais positivos. O roteiro e as atuações são pontos fortíssimos, apesar de cometer alguns deslizes, sobretudo nos arcos do Everett Ross (Martin Freeman) e a conclusão dos arcos de Riri Williams (Dominique Throne) e Okoye (Danai Gurira). O CGI em alguns momentos é bem incômodo, como tem sido de praxe nas produções mais recentes da Marvel, além de que em alguns momentos a montagem fica um pouco confusa. Além disso, o filme expande o Universo Marvel ao apresentar Namor como mutante e ao introduzir a Riri Williams, que assume o manto do Coração de Ferro.