A Mais Preciosa das Cargas: uma guerra sem nome
- Silas Castro
- 17 de abr.
- 3 min de leitura
Esta animação francesa, A Mais Preciosa das Cargas, adapta a história de livro homônimo foi dirigida por Michel Hazanavicius, tem roteiro escrito por Jean-Claude Grumberg e Hazanavicius, já concorreu a Palma de Ouro no ano passado e chega aos cinemas brasileiros no dia 17 de abril e a convite da Paris Filmes assistimos antecipadamente.
Uma guerra, um trem e um bebê
A história se passa durante a 2ª Guerra Mundial em uma área rural e distante da vida da cidade, na qual o único elemento urbano presente é um trem, que para os moradores desta região é tratado até como uma figura divina por uns e um mau presságio para outros.

Nossa personagem principal é a esposa de um pobre lenhador desta região que em um dia que buscava lenha para se aquecer do rígido inverno acaba encontrando um bebê que havia sido jogado da “gloriosa” locomotiva. Como ela não conseguia ter filhos mais com seu marido, ela vê aquilo como se os deuses estivessem ouvindo suas preces e acolhe a pequena como se fosse sua.
A guerra nos separa…
Inicialmente seu marido não apoia a ideia, já que ela é um “sem coração” (denominação que os camponeses estavam dando aos judeus) e que ela deveria se livrar da criança. Ao longo da história conseguimos ver como o preconceito está impregnado e manchado no discurso de muitos dos lenhadores, mesmo que ainda não tenha sido mostrada a guerra em si, nem outros “sem corações”.
Posteriormente, a trama mostra o motivo da bebê ter sido jogada do trem e acompanhamos um pouco mais a perspectiva de seu pai biológico dentro do trem e o que acontece com ele após chegar na cidade, onde ele é separado de sua mulher e levado até um campo de concentração.
A bondade nos une
Mesmo que inicialmente o lenhador não tenha se dado bem com a bebê, ao decorrer da história ele começa a perceber que um “sem coração” na verdade tem coração sim! E isto faz com que ele comece a reavaliar sua visão de toda situação e apoiar sua esposa na criação da pequena. Além disso, vemos como a bondade existe até nas pessoas mais feridas pela guerra e que nos momentos mais cruéis da história da humanidade, ainda existiam pessoas dispostas a ajudar uma mulher com seu bebê.
Beleza natural e horrores da humanidade

Os traços desta animação transmitem uma história por si só, o filme começa em um forte inverno e é perceptível a sensação de solidão e isolamento que os personagens passam neste período conturbado, com pouca comida e poucas formas de se aquecer. O trem com sua fumaça espessa realmente é um elemento que se destoa naquele cenário natural. Em um período do filme chegamos à primavera e a mudança de cores e tons é algo de se admirar, porém a tranquilidade é passageira em períodos de guerra.
Quando a animação foca na parte urbana da trama o preto e tons mais escuros dominam para demonstrar os impactos da guerra. No momento que o Holocausto é representado em cena, não é algo fácil de ser digerido, pois eles demonstram de forma bem forte e sem filtros os horrores deste período.
Refletindo sobre a guerra
Algo que você deve ter percebido ao ler esta análise é justamente a falta de nomes, a personagem principal não é nomeada, nem seu marido, nem o pai biológico da criança… Nenhum personagem possui nome, na verdade nem é dito exatamente onde nem a data exata em que a trama se passa e no início do filme não é claro qual Guerra que está acontecendo e isto foi feito de forma proposital.
Em seu discurso final, o narrador da história comenta que muitos não acreditam que essa história aconteceu, já outros não acreditam que o Holocausto aconteceu e para os mais extremistas nem a Guerra aconteceu… Isto gera uma reflexão muito forte no espectador sobre como com o tempo as pessoas tendem a esquecer grandes erros do passado o que torna mais plausível deles ocorrerem novamente no presente ou no futuro.
Por fim o narrador diz que tem uma parte da história que é inegável que é real, mas para você saber qual é, terá que ir assistir esta linda e reflexiva animação no cinema!
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